Poemas da resistência à liberdade
De Edmundo Bettencourt
Liberdade - Tu a tens à vontadinha /Que não eu/Quero a minha /E não a que me prometeste/Lá no Céu!
Antes dançar que dormir/Já que não tenho a liberdade/De ganhar para vestir/Já que não tenho liberdade /De ganhar para comer,
Quero dançar/Quero dançar para esquecer.
Liberdade /Onde queres podes tê-la/Mas não eu/Quero vê-la, Com meus olhos, que não moro/ lá no Céu
Dança esta dança sem temor/Quero eu ter a liberdade/De abraçar o meu amor /que eu hei-de ter a liberdade/e ganhar para viver/E não dançar/e não dançar para esquecer
De Armindo José Rodrigues, musicado por Lopes Graça
Hino ao Homem
Homem, se Homem queres ser/ e não uma sombra triste/olha para tudo o que existe/com olhos de bem o ver/nada receeis saber/Ao que não mas, resiste/Mesmo vencido, persiste/e acabarás por vencer
Quer e poderás poder /vai por onde decidiste/ a liberdade consiste/no que a razão te impuser
O - CCO na rua do Pombal
Era aquele tempo da malta católica do centro de cultura operaria da Madeira, com o apoio dos Padres do Pombal
Este parte /aquele parte e todos se vão /Madeira ficas sem Homens /que possam colher teu pão
Eram os tempos da solidariedade entre operários jovens, com jovens universitários progressistas era o tempo da reflexão sobre ir ou não à guerra colonial era o tempo de lutar pelas liberdades
De Luis Cília
Canção do desertor
Oh mar…Oh mar /que beijas a terra/ diz à minha mãe que não vou para a guerra
Diz ó mar à minha mãe/que matar não me apraz/no fundo quem vai à guerra é aquele que não a faz
Vou cantar a liberdade/para a minha Pátria amada/e para a mãe negra e triste/ que vive acorrentada
Mas a voz do nosso povo /no dia do julgamento/ te dirá a ti ó mar e dirá de vento ao vento
Quem são os traidores/se é quem nos rouba o pão/ou se nós os desertores/que à guerra dizemos não
Aleixo o poeta popular
Sei que pareço um ladrão/ mas há outros que conheço/que não parecendo o que são/ são aquilo que pareço
Tu que és engenheiro / tens saber profundo vês bem / vê se constróis uma ponte no mundo /que não esmague ninguém
De Brecht
Do rio que tudo arrasta/ lhe chamam violento/mas não chamam violento as margens que o comprimem
E o seu o Hoje e o Nunca
O que ainda vive não diga nunca /O seguro não é seguro. Como está não ficará /Quando os dominadores falarem/falarão também os dominados/ quem se atreve a dizer nunca?/os caídos que se levantem/os que estão perdidos que lutem/ os vencidos de hoje serão os vencedores de amanhã/e o HOJE nascerá do nunca
Ary dos Santos
As Portas que Abril Abriu
Era uma vez um País/ entre o mar e a guerra/ vivia o mais infeliz / dos povos à beira terra…..
Essas portas de Caxias/ se escancararam de vez/ ssas janelas vazias e essas celas tão frias/tão cheias de solidez /que espreitavam como espias/ todo o povo português…..
Agora que já floriu/ a esperança na nossa terra/as portas que Abril Abriu /nunca mais ninguém as cerra
Porque estamos em campanha eleitoral, porque mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, porque a memória é curta entendi refletir sobre o que custou a liberdade recorrendo um pouco aos meus apontamentos, dos meus tempos de estudante de 1965 a 1974