Influente monge budista Thich Nhat Hanh morre no Vietname aos 95 anos
Um dos mais influentes monges budistas do mundo, Thich Nhat Hanh, morreu hoje no Vietname com 95 anos, anunciou a organização Plum Village, que gere templos com base nos seus ensinamentos a nível mundial.
O mestre "faleceu pacificamente" no templo Tu Hieu na cidade de Hue, o coração do zen-budismo vietnamita, disse a Plum Village na rede social Twitter, citada pelas agências de notícias France-Presse, Associated Press e EFE.
"Convidamos a nossa amada família espiritual global a tirar alguns momentos para estar em paz", disse a organização do homem que voltou a viver no seu Vietname natal em 2018, após quase 40 anos no exílio nos Estados Unidos e em França.
Thich Nhat Hanh ajudou a difundir a prática da consciência no Ocidente, nomeadamente com a estrela de TV Oprah Winfey e a atriz Gwyneth Paltrow, ambas norte-americanas, e do budismo socialmente empenhado no Oriente.
Foi também influente com muitos chefes da indústria tecnológica de Silicon Valley, incluindo o gigante Google, onde foi convidado a divulgar os seus ensinamentos.
Thich Nhat Hanh é considerado uma das figuras mais empenhadas do budismo juntamente com o atual Dalai Lama, Tenzin Gyatso, que já lamentou a morte do "amigo e irmão espiritual".
"Na sua oposição pacífica à Guerra do Vietname, no seu apoio a Martin Luther King e, sobretudo, na sua dedicação em partilhar com os outros não só como a atenção e a compaixão contribuem para a paz interior, mas também como os indivíduos que cultivam a paz de espírito contribuem para a paz mundial genuína, o Venerável viveu uma vida verdadeiramente significativa", disse o líder espiritual dos budistas tibetanos, citado pela AP.
Escritor, poeta, pacifista e defensor dos direitos humanos, Thich Nhat Hanh opôs-se à guerra do Vietname (1955-1975), o que lhe valeu o exílio.
Começou a ganhar notoriedade internacional em 1966, quando se encontrou nos Estados Unidos com Martin Luther King, que um ano mais tarde o nomeou como candidato ao Prémio Nobel da Paz.
"Não conheço ninguém mais merecedor do que este gentil monge vietnamita. As suas ideias para a paz, se implementadas, seriam um monumento ao ecumenismo, à fraternidade universal, à humanidade", proclamou o líder dos direitos civis norte-americano, assassinado em 1968.
Vetado pelo Governo pró-EUA do Vietname do Sul, não pôde regressar à sua pátria durante a guerra e foi-lhe também negada a entrada pelo regime em vigor desde a vitória do Norte comunista em 1975.
Em 1982, instalou-se no mosteiro de Plum Village, que fundou no sul de França e onde viveu até se mudar para a Tailândia em 2016, cerca de dois anos depois de ter sofrido um derrame cerebral.
Dois anos mais tarde, mudou-se para o pagode Tu Hieu Pagoda, perto da cidade vietnamita de Hue, o lugar onde se tornou monge em 1942, com 16 anos de idade, e onde morreu hoje.
O sucesso dos seus livros e dos retiros espirituais que organizou com centenas de seguidores permitiu-lhe propagar no Ocidente uma versão modernizada do budismo que estabelece a consciência e a paz interior como pilares centrais, os quais ligou a situações práticas da vida contemporânea.
O outro pilar principal dos seus ensinamentos é que os seres humanos têm de "ser paz" dentro de si próprios para superar sentimentos negativos como a raiva, o medo e o remorso.
Thich Nhat Hanh publicou cerca de 70 livros vendidos em todo o mundo, incluindo Portugal, onde foram traduzidas algumas das suas obras, tais como "Medo", "A minha casa é o Mundo", "A arte de viver", "Criar a verdadeira paz", "Caminhos para a paz interior", "Felicidade" ou "A arte do poder".