Tempos de antena
Há quem aborde coisas sérias nesta 'campanha alegre' e que custa uma pipa de massa
Boa noite!
Aquilo que todos os partidos e alguns aspirantes mais desejam é ter tempo de antena sem interferências, nem interpretações. Nem sempre é fácil obtê-lo, mas em plena campanha, há fartura de espaço. O Estado é generoso. São 706,28 minutos para gastar. Tanto que nem todos conseguem preenchê-lo, seja na rádio, como na televisão. Leu bem. Há quem desperdice uns minutos de fama por não saber o que dizer.
Desperdício e oportunidade
O especialista em comunicação Manuel Falcão considerou hoje que os tempos de antena televisivos já não se justificam e são um mau negócio para os canais, por entender que perdem audiência e publicidade, quebras que a contrapartida financeira do Estado dificilmente compensa.
De facto, não se percebe como é que o anacronismo eleitoral, evidente na resistência ao voto electrónico, perdura, também em termos de comunicação, apesar do advento dos meios de informação digitais, das redes sociais dos partidos e de outros mecanismos de partilha de conteúdos. Exige-se uma actualização da legislação para que futuramente haja mais critério, melhores conteúdos e mensagens assertivas.
“Os tempos de antena não levam ninguém a mudar de opinião ou a conquistar eleitores e também não têm travado essa tendência infortunada e infeliz do aumento da abstenção nas eleições legislativas ". Manuel Falcão, na Lusa
Uma pipa de massa
Sabe-se que o Estado paga 2.465 euros por cada minuto de tempo de antena transmitido nas televisões (RTP, SIC e TVI), num total de 2,3 milhões de euros que serão gastos neste tipo de publicidade eleitoral, que envolve também as rádios, mas só às de âmbito nacional e regional. Tanto melhor. Se as locais entrassem não dava para pagar a luz.
Para que conste e lhes possam pedir contas, a RDP recebe 64.267,30 euros, a Rádio Comercial 214.318,60 euros e a Rádio Renascença 287.645,40 euros. Em relação às estações de radiodifusão de âmbito regional, a M80 irá receber 36.602,15 euros e a TSF 36.602,15 euros.
Acredite se quiser
O católico Posto Emissor de Radiodifusão do Funchal é o único meio regional a facturar. A rádio da Diocese encaixa 9.419,10 euros, mesmo que ao longo da emissão possa surgir um trocadilho que atente contra amoral e os bons costumes, quiçá proferido por alguém católico pouco crente.
Regionalismo nas nacionais
Nos tempos de antena das Legislativas em curso, entre as 23 candidaturas com direito a usar da palavra há sotaque madeirense, garantido pelos Juntos Pelo Povo (JPP) e o Madeira Primeiro (PPD/PSD.CDS-PP). Ter-se-ão candidatado à contar com tamanha boleia?
Ficção nacional
Pelo que tem sido apresentado, a pandemia de covid-19 é tema dominante, acompanhado por músicas que "ficam no ouvido", palavras de ordem e imagens de líderes que se dispõem a salvar Portugal. Dizem os entendidos que o CDS surge com enredo mais elaborado, pois aposta numa mini série que dá conta de um suposto reencontro da direita pós confinamento, através de três episódios que caricaturam a IL, o Chega e o PSD, a quem chama de "Prima Moderninha", "Primo Sem Maneiras" e "Irmão Desaparecido em Combate". Nesse "diálogo", Francisco Rodrigues dos Santos tenta desmontar os argumentos dos adversários da direita, alegando que o CDS esta há frente nas matérias que os outros defendem, num cenário onde não faltam azulejos portugueses, broa e bagaço. Bpm proveito.
A banda sonora
O que não faltam são canções que falam de Rio. De Rui Veloso aos Delfins, há Rio que chegue para decorar a campanha. Só que o PSD não foi de modas ou não quis pagar direitos de autor. Por isso, escolheu logo no primeiro tempo de antena um videoclip com música a condizer. Eis o hino, a fazer lembrar a festa da aldeia.