Seychelles ordena prisão de antiga primeira dama acusada de desvio de 44 milhões de euros
Um tribunal das Seychelles ordenou hoje a detenção da antiga primeira dama Sarah Zarqhani Rene, acusada, com outras cinco pessoas, num caso de desvio de 50 milhões de dólares (44 milhões de euros), no início dos anos 2000.
A viúva do ex-presidente France-Albert René, que governou aquele arquipélago do Oceano Índico entre 1977 e 2004, foi detida a 26 de novembro.
Os factos datam de 2002. Os Emirados Árabes Unidos tinham concedido uma doação de 50 milhões de dólares (44 milhões de euros) para ajudar as autoridades, então necessitadas de moeda estrangeira, a importar alimentos e bens de primeira necessidade.
Mas quando o dinheiro chegou ao Banco Central, foi enviado para uma conta na Grã-Bretanha, como revelou, em 2014, Ahmed Afif, agora vice-presidente das Seychelles.
De acordo com a acusação, citada pela agência de notícias francesa AFP, grande parte dos 50 milhões de dólares foi transferida para várias empresas de fachada em todo o mundo antes de regressar às Seicheles, onde o dinheiro foi utilizado para comprar hotéis subvalorizados, que foram depois vendidos a preços mais elevados.
Os investigadores da comissão anticorrupção estão também a investigar quatro transferências, num total de 700.000 dólares (617.000 euros), para uma conta detida por France-Albert René na Austrália. A antiga primeira-dama afirma que o seu marido, que morreu em 2019, é que geria a conta.
Para já, há também suspeitas que o antigo conselheiro económico do Presidente René, o empresário Mukesh Valahbji, e a sua esposa Laura tenham organizado a operação.
Mukesh Valahbji é acusado de conspiração para corrupção e de conspiração para branqueamento de capitais.
A sua esposa e Sarah Zarqhani René são acusadas de branqueamento de capitais, tal como o antigo diretor-geral do Ministério das Finanças, Lekha Nair, o antigo chefe da empresa que geriu vários dos hotéis que depois foram vendidos, Maurice Loustau-Lalanne e um antigo oficial superior do exército André Leslie Benoiton.
Todos negam as acusações, mas quatro deles estão detidos. Nair e Loustau-Lalanne foram libertados sob fiança.
A investigação ainda está em curso e uma sétima pessoa foi presa esta semana.
Sarah Zarqhani René (63) tem solicitado repetidamente a fiança. O tribunal fixou a fiança em 2 milhões de dólares, uma quantia que a antiga primeira-dama diz não poder pagar.
Desde a sua eleição, em outubro de 2020, o Presidente Wavel Ramkalawan levou a cabo um programa anticorrupção, um assunto tabu neste pequeno arquipélago, onde a política e os negócios estão intimamente ligados.
A 05 de outubro, as ilhas Seychelles foram retiradas da lista negra de paraísos fiscais da União Europeia, depois de se terem comprometido com reformas para satisfazer as exigências de transparência do bloco europeu.
Esta decisão provocou a indignação da ONG Oxfam, que tinha recordado que o arquipélago estava "no coração" dos Pandora Papers, uma vasta investigação publicada alguns dias antes, que estabelecia ligações entre os ativos offshore e várias centenas de líderes e políticos proeminentes.