Manifestantes cubanos aguardam sentenças e enfrentam longas penas de prisão
Os tribunais cubanos concluíram a fase de audiência de seis julgamentos em massa de pessoas acusadas de envolvimento nos maiores protestos na ilha em décadas, deixando mais de 100 arguidos à espera de sentenças potencialmente pesadas.
Familiares dos arguidos e ativistas que acompanharam os julgamentos em várias cidades cubanas -- o último dos quais terminou esta semana -- indicaram que a acusação pediu sentenças de até 30 anos de prisão por crimes que incluem sedição, perturbação da ordem pública e agressões. Não foi anunciada qualquer data para a leitura das sentenças.
Milhares de cidadãos cubanos saíram à rua em diversas cidades do país a 11 e 12 de julho de 2021 para protestar contra a falta de alimentos, cortes de eletricidade e dificuldades económicas -- com alguns a instar também a uma mudança de Governo.
Pelo menos uma pessoa morreu e vários estabelecimentos comerciais e veículos foram vandalizados ou incendiados.
As autoridades não precisaram quantas pessoas foram detidas, mas a organização Justiça 11J, criada para seguir estes casos, registou 1.300 detenções e disse que mais de 400 pessoas foram, até agora, julgadas.
Em agosto, as autoridades tinham indicado que houvera 23 julgamentos sumários de 67 arguidos por delitos menores.
Organizações não-governamentais como a Human Rights Watch e a Amnistia Internacional acusaram o Governo de reagir a protestos na maioria pacíficos com detenções arbitrárias e repressão violenta destinada a silenciar a contestação, o que o Governo rejeita.
Muitos dos manifestantes não tinham cadastro prévio de ativismo político e não pareceu existir uma liderança clara nos protestos, embora o Governo tenha acusado grupos da oposição sediados nos Estados Unidos de tentarem organizar manifestações através de uma campanha nas redes sociais.
As autoridades cubanas reconheceram que algumas queixas dos manifestantes tinham fundamento, e o Presidente, Miguel Díaz-Canel, visitou o populoso bairro de La Guinera, em Havana, onde foram prometidos mais programas sociais na esteira dos protestos.
Salomé García, uma ativista da organização Justiça 11J, disse que os julgamentos se destinam a servir de "exemplos", já que só uma pequena percentagem dos manifestantes enfrenta acusações graves.
Segundo a ativista, acusações de sedição foram feitas aos manifestantes de La Guinera, onde não houve casos de pilhagem de lojas, ao passo que não foram apresentadas queixas dessa natureza na província central de Matanzas, onde se registaram casos de veículos de patrulha virados pela população.