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Papa emérito refuta acusação de inércia face a abusos sexuais e expressa "choque e vergonha"

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O Papa emérito Bento XVI vai analisar com atenção o relatório da arquidiocese de Munique, hoje divulgado, que o acusa de não ter agido em vários casos de abusos sexuais, e expressou a sua "proximidade" com as vítimas.

O secretário pessoal do pontífice emérito, Monsenhor Georg Gänswein, explicou hoje ao portal Vatican News que Bento XVI teve conhecimento do referido relatório esta tarde.

"Nos próximos dias analisará o texto com a atenção necessária. O Papa emérito, como repetiu várias vezes durante os anos do seu pontificado, expressa o seu choque e vergonha pelo abuso de menores cometidos por clérigos", disse Gänswein.

O Papa emérito alemão, de 94 anos, que está retirado no mosteiro Mater Ecclesiae, no Vaticano, desde a sua renúncia em 2013, expressou "a sua proximidade pessoal e a sua oração por todas as vítimas, algumas das quais conheceu por ocasião das suas viagens apostólicas".

Um relatório sobre alegados abusos sexuais no arcebispado alemão de Munique acusa Bento XVI, então arcebispo daquela arquidiocese e atual Papa emérito, de inércia em pelo menos quatro casos conhecidos que ocorreram sob a sua hierarquia.

O documento, encomendado pelo arcebispado a uma equipa de advogados, regista que Joseph Ratzinger não agiu para impedir os casos apontados, e os investigadores consideram "pouco credível" a reação do Papa emérito, que rejeita as acusações, sustentando que não viram da sua parte "nenhum interesse reconhecível" em agir contra os abusadores.

O documento culpa sucessivas hierarquias da Igreja por não terem agido para travar os abusos, no mínimo, ou mesmo de os encobrir.

O Vaticano já reiterou o seu "sentimento de vergonha e remorso" pela violência sexual cometida por clérigos contra menores, numa reação à publicação do relatório idêntica à do cardeal Reinhard Marx, atual arcebispo de Munique.

O cardeal, que encomendou o relatório independente, disse estar "chocado e envergonhado" após a publicação do documento sobre o encobrimento de abusos sexuais naquela arquidiocese alemã.

"Os meus primeiros pensamentos são para os que sofreram nas mãos de representantes da Igreja, padres e outros funcionários", disse, durante uma breve declaração.

De acordo com o escritório de advocacia que produziu o relatório de 1.700 páginas, existe uma "alta possibilidade" de Joseph Ratzinger ter conhecimento de pelo menos quatro casos, e o próprio Reinhard Marx é referido sendo-lhe apontada falta de atenção suficiente a determinados comportamentos.

O arcebispo-cardeal pediu a sua demissão no ano passado, face à dimensão dos abusos sexuais encobertos pela Igreja Católica na Alemanha durante décadas, mas ao Papa Francisco não aceitou o pedido.

Marx explicou que, devido ao volume do relatório, as instituições eclesiásticas estão agora a analisá-lo e apresentarão uma primeira posição sobre o assunto na quinta-feira da próxima semana.

"Sinto-me corresponsável pelo que aconteceu à instituição da Igreja nas últimas décadas", disse Marx, acrescentando que é sabido "há anos que a Igreja não levava a sério os abusos sexuais, que os autores não eram muitas vezes questionados e que os responsáveis olhavam para o outro lado".