Secretário-geral da ONU manifesta satisfação com "esforço efectivo" para a paz em Tigray
O secretário-geral das Nações Unidas manifestou hoje a sua satisfação por saber que "está a ser feito um esforço efetivo para paz" na Etiópia, imersa há mais de 14 meses numa guerra interna, mas não avançou quaisquer pormenores.
A declaração de António Guterres foi divulgada depois de telefonema entre o secretário-geral da ONU e o enviado da União Africana (UA), o antigo presidente nigeriano, Olusegun Obasanjo, que visitou recentemente Adis Abeba e a capital do estado etíope de Tigray, no norte da Etiópia.
Guterres revelou que Obasanjo "expressou otimismo de que existe agora uma oportunidade real para a resolução política e diplomática do conflito".
A declaração de Guterres não oferece quaisquer pormenores sobre as posições de cada uma das partes.
Um novo enviado dos Estados Unidos ao Corno de África, o embaixador David Satterfield, deverá encontrar-se com responsáveis etíopes esta quinta-feira.
Apesar do otimismo manifestado, o secretário-geral da ONU advertiu que "as operações militares em curso em algumas partes da Etiópia continuam a colocar um desafio ao processo de paz e minam as medidas de confiança que se espera sejam tomadas por todas as partes em conflito".
A expressão de Guterres permite incluir, para além dos exércitos federal etíope e estadual de Tigray, as forças da Eritreia e combatentes da região de Amhara, estado etíope na fronteira ocidental de Tigray, aliados de Adis Abeba, assim como combatentes do estado de Oromia, que se aliaram ao exército tigray.
O secretário-geral apelou a todas as partes "a avançarem rapidamente para a cessação das hostilidades", e afirmou que a ONU está a acompanhar os esforços de mediação liderados pela UA com grande esperança.
A guerra no Tigray eclodiu em 04 de novembro de 2020, quando o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, enviou o exército federal para aquele estado no norte do país, com a missão de retirar pela força as autoridades locais da Frente de Libertação do Povo de Tigray (TPLF, na sigla em inglês) que vinham a desafiar a autoridade de Adis Abeba há muitos meses.
O pretexto específico da invasão foi um alegado ataque das forças estaduais a uma base militar federal no Tigray, e a operação foi inicialmente caracterizada por Adis Abeba como uma missão de polícia, que tinha como objetivo restabelecer a ordem constitucional e conduzir perante a justiça os responsáveis pela sua perturbação continuada.
Abiy Ahmed declarou vitória três semanas depois da invasão, quando o exército federal capturou a capital estadual, Mekele. Em junho deste ano, porém, as forças afetas à TPLF já tinham retomado a maior parte do território do estado do Tigray, e continuaram a ofensiva nos estados vizinhos de Amhara e Afar.
Em novembro, as forças do Tigray e forças insurgentes aliadas da Oromia (outro estado etíope) começaram a retirar das áreas ocupadas para a região de origem. Em contrapartida, o poder em Adis Abeba comprometeu-se em não voltar a invadir o estado pária.
O exército federal assentou posições nas fronteiras de Tigray e retomou o controlo de várias posições anteriormente nas mãos das forças da TPLF em Amhara e Afar. Entretanto, forças de Amhara invadiram já partes do Tigray ocidental.
O conflito na Etiópia provocou a morte de vários milhares de pessoas e fez mais de dois milhões de deslocados, deixando ainda centenas de milhares de etíopes em condições de quase fome, de acordo com a ONU.
Uma investigação conjunta do Alto-Comissariado das Nações Unidas e da Comissão Etíope dos Direitos Humanos, criada pelo governo etíope, concluiu no início de novembro último que foram cometidos crimes contra a humanidade por todas as partes envolvidas no conflito, onde participaram o exército da Eritreia, ao lado do exército federal etíope, assim como forças insurgentes do estado da Oromia, ao lado do contingente militar da TPLF.
A ONU estima, por outro lado, que entre novembro e dezembro tenham sido detidas entre 5.000 e 7.000 pessoas, incluindo membros do seu pessoal, sobretudo de etnia tigray.
Os intensos esforços diplomáticos, incluindo os da União Africana, para alcançar um cessar-fogo, não produziram até agora qualquer progresso decisivo.
O conflito fez já milhares de mortos e expulsou mais de dois milhões de pessoas das suas casas, de acordo com a ONU.