Análise

PSD está no poder regional graças à bengala política

Miguel Albuquerque não quer para o país soluções de governabilidade?

1. Num contexto em que cresce a convicção que para governar Portugal será preciso negociar, há quem corra por fora - mesmo aparecendo nos cartazes - e desate a fechar portas que, por sinal, António Costa e Rui Rio deixaram escancaradas no debate mediático da última semana. Mais uma vez, o vencedor das eleições legislativas dificilmente terá maioria absoluta e a governabilidade do País tem que ser equacionada desde já, neste tempo de campanha em que se exige clarificação das propostas, ponderação nas hipóteses responsabilidade na linguagem. O momento é sério e dispensa extremismos, gritaria e repentismos. Tudo o que Miguel Albuquerque não tem feito, comprometendo novamente o futuro, prolongando o viciante contencioso que nada nos traz de útil em tempo real, nem de promissor a longo prazo. Para que conste, Miguel Albuquerque assumiu sexta-feira que “o PSD não tem que ser bengala de nenhuma solução que não seja aquela que apresenta”. Ou seja, o social-democrata ilhéu não quer para o País a solução que, apesar dos tropeções e cedências, vai garantindo a governabilidade na Madeira e também nos Açores.

Miguel Albuquerque devia pensar antes de falar já que está no poder graças a uma bengala política, em tempos CDS de seu nome, estrutura hoje totalmente absorvida pela social-democracia regional, mesmo que alguns centristas tentem, aqui ou acolá, ter vontade própria. O partido liderado por Rui Barreto dispensa vozes críticas, impede a entrada de novos militantes, tem cadastro pouco abonatório e até resume o próximo sufrágio a uma luta clara entre autonomistas e “os feitores do Terreiro do Paço”, quando num cenário imprevisível, os deputados da Madeira podem ter uma preponderância nunca vista, embora desterrada desde já.

Mesmo que tenha ensaiado a tese que o seu partido não deve viabilizar qualquer solução governativa do PS saída das legislativas de dia 30, Miguel Albuquerque arrisca-se a levar de bengala. Também na sexta-feira, Rui Rio mostrou outro tipo de postura. “Democraticamente negoceio”, disse.

O líder nacional do PSD sabe que o futuro de um Portugal credível e robusto não dispensa bengalas. Sem surpresa, admite que se os socialistas vencerem as legislativas, António Costa deve ter “predisposição para negociar o OE com os outros partidos”, incluindo o PSD, pois está disponível para esse diálogo. E que se o PSD vencer, também sem maioria absoluta, espera que os outros partidos, em particular os que lhes são mais próximos, negoceiem a possibilidade de haver Governo.

O que leva Rio a agir assim, de forma bem distinta de Albuquerque? É por ser estadista? É por ter a noção que a instabilidade nacional arrasta todos para lama? É por ter aprendido que quem governa não pode estar, por princípio, contra ninguém? Por alguma razão Rui Rio não desagua na Madeira na campanha que aí vem, ao contrário de António Costa que, mesmo tendo acumulado derrotas nos últimos sufrágios insulares e dossiers pendentes por resolver com a Região, não foge ao incómodo.

2. Por duas vezes escrevemos que “na semana em que os casos de covid dispararam, mesmo internamente, o hospital deixou de fazer teste PCR aos funcionários”.

Por insistirmos na tese que “ninguém se importa”, no domingo recebemos a garantia que o facto, indesmentível, teria consequências imediatas. Segundo apuramos, a decisão unilateral de acabar com a testagem foi classificada de irresponsável e tomada à revelia das orientações internas.

Ficamos a saber depois que Rui Silva deixou de ser o director de Saúde Ocupacional - Medicina do Trabalho - do SESARAM, responsabilidade que assumiu durante mais de dez anos. Além de deixar as funções, o também director da empresa Ergoram desvinculou-se do serviço público de saúde.

Com base nos dois momentos distintos, estaremos perante uma relação de causa e efeito? Talvez. Mas pode não ser a única.

Também havíamos revelado que o SESARAM decidiu aplicar novas medidas aos profissionais com receio de falta de meios humanos. O pedido de demissão apresentado por Rui Silva terá sido motivado pela “Norma para a Gestão dos Profissionais de Saúde com Infecção ou Exposição a SARS-CoV-2”?

O que quer que tenha sido, e comprovadamente há alguns reparos de parte a parte em relação à desorganização na gestão da pandemia, o caso merece explicações públicas, mas acima de tudo, apenas a verdade. Sem bengalas.