Crónicas

Lutar contra o sono de olhos arregalados*

É que ao longo destes dois anos de pandemia, o Governo Regional tem pautado a sua ação por tomadas de decisão que não são propriamente transparentes

No momento em que escrevo estão cerca de 20 mil pessoas em isolamento. Este número não espanta, se pensarmos que temos mais de 10 mil pessoas infetadas e que os números diários têm sido consistentemente altos há várias semanas. E se há uns meses 100 infeções eram o descalabro, a esta altura, com 2.166 infeções diárias registadas na quinta-feira passada, apenas já se diz que se ultrapassou as 2000 infeções. Mas o facto é que este número de infeções equivale a mais de 85 mil pessoas no cômputo total do país. Longe vão os tempos em que os responsáveis políticos na Região repetiam que a contenção (ou não) do vírus estava diretamente relacionada com a competência política (ou ausência dela na gestão da pandemia. Com o dobro dos casos diários (comparativamente à realidade nacional) essas correlações saíram definitivamente do discurso oficial e fala-se agora na «desnecessidade» de testar a população (para já em fazer experimental, de «testagem» do impacto de uma decisão destas junto da opinião pública). Não deixa de ser curioso que quando se percebe que o vírus anda à vontadinha entre nós (apesar de as autoridades regionais continuarem a evitar o uso da expressão «transmissão comunitária») a inclinação seja para cessar a testagem da população.

A minha dúvida está só nos motivos desta quase decisão: as motivações são científicas? São financeiras? Ou é mera gestão política numa altura em que se quer forçosamente diminuir os números oficiais? É que ao longo destes dois anos de pandemia, o Governo Regional tem pautado a sua ação por tomadas de decisão que não são propriamente transparentes. Não temos conhecimento quanto à auscultação das várias entidades que produzem conhecimento científico na matéria e a partir das quais as decisões políticas devem ser tomadas. E as decisões políticas têm excluído sempre as restantes forças políticas que tomam conhecimento sobre o que é decidido pelas conferências e comunicados de imprensa. O que profusamente tem existido são os autoelogios e o delírio de que ficaremos na história e (quase que) lideramos o combate à pandemia na Europa e quiçá, no Mundo.

Felizmente, o impacto destes números elevadíssimos tem sido amplamente diminuído graças aos avanços científicos; não há dúvidas de que as vacinas têm tido um papel fundamental, menorizando o impacto da doença nas pessoas que contraem a infeção. Basta comparar o número de pessoas que sucumbiram à doença com muito menos infeções do que as que registamos atualmente, para percebermos que estamos perante um poderoso instrumento de combate à COVID.

Ainda assim, termos 20 mil pessoas em isolamento tem consequências significativas em muitas áreas, desde logo na Saúde e em vários serviços de atendimento ao público. Temos sentido esses constrangimentos e temos já alguns setores da nossa economia com as mãos à cabeça. Outra vez. E sobre isto, não temos ouvido uma palavra que seja por parte do Governo Regional. Para já, os setores mais afetados estão entregues à sua sorte e parece que o Governo Regional está à espera que o problema desapareça por si.

Esta realidade terá também, obrigatoriamente, impacto no ato eleitoral do próximo dia 30 de janeiro.

Estas eleições dizem respeito à constituição de uma nova composição da Assembleia da República, que determinará quem e como será governado o País nos próximos anos.

Neste cenário, com a possibilidade eminente de haver mais isolamentos, o voto antecipado constitui-se como uma poderosa ferramenta disponibilizada para fintar o impacto que a COVID poderá ter no ato eleitoral. Porque ninguém está livre de contrair o vírus, já que é evidente que estamos perante uma situação de transmissão comunitária do vírus, qualquer um/a de nós poderá propor-se a votar antecipadamente. Isto significa que teremos duas oportunidades de exercer o nosso direito de voto: a 23 ou a 30 de janeiro. Deste modo, temos uma maior probabilidade de conseguir exercer, de facto, o nosso direito e dever de voto.

O requerimento de voto antecipado em mobilidade pode ser feito por duas vias: ou por via postal ou por via digital, neste caso através do site www.votoantecipado.mai.gov.pt/.

Fazê-lo através da plataforma digital é a forma mais simples, mas se preferirmos fazê-lo por via postal, devemos dirigir o requerimento à Administração Eleitoral da Secretaria-Geral do Ministério da Administração Interna e facultar os seguintes elementos:

O nome completo; a data de nascimento; o número de identificação civil; a morada; o contacto telefónico e, se tivermos, o endereço de correio eletrónico; finalmente, devemos indicar também o Município onde pretendemos exercer o direito de voto antecipado em mobilidade.

Depois, se tivermos a sorte de não estarmos infetados/as no dia 23 (convenhamos que com mais de dois mil casos diários uma pessoa tem de ter sempre o credo na boca, por muito cuidado que tenha), é só dirigirmo-nos à mesa de voto do Município que indicamos votarmos. Se tivermos o azar de não podermos a 23 de janeiro, resta a possibilidade de podermos votar no dia 30 de janeiro.

Mas para exercermos o nosso direito de voto, é de extrema importância que estejamos também a par quanto ao que cada partido se propõe a defender na Assembleia da República – e também cientes do que consideramos ser o melhor para o País e, obviamente, também para a Região.

Da minha parte, considero que o programa do Partido Socialista é o que melhor responde às necessidades do País. Quanto à nossa representação na Assembleia da República, também não tenho dúvidas quanto ao empenho e à capacidade negocial da equipa candidata pelo PS-Madeira, uma equipa sem falsas promessas, gritarias ou criação de inimigos externos que apenas escondem a inércia, incompetência e falta de conhecimento dos dossiês. A equipa que o PS-Madeira candidata à Assembleia da República alia a continuidade e a renovação, é uma equipa com passado e provas dadas a esse nível, mas também uma equipa com muito futuro e Sempre Com a Madeira.

* a partir de dois versos de Sérgio Godinho.