Inflação, juros e ciberataques entre os riscos para 2022
O aumento da inflação e das taxas de juro, o surgimento de novas variantes da covid-19 e os ciberataques estão entre os principais riscos para 2022 identificados pela CMVM no "Risk Outlook" publicado hoje.
No documento onde a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) analisa os riscos mais significativos que se perspetivam para 2022, são identificados como os três principais "o risco de mercado, os riscos associados à digitalização e os riscos ESG (Environmental, Social, and Governance)".
Em relação ao risco de mercado, o regulador afirma que "o eventual aumento da taxa de inflação e das taxas de juro poderá inverter o ritmo de ganhos no mercado acionista".
"Essas correções de preços poderão ser exacerbadas devido à excessiva alavancagem de alguns investidores, que poderão ser forçados à alienação de posições", realça a CMVM.
A entidade reguladora alerta ainda para "subidas das taxas de juro mais rápidas do que o esperado e o surgimento de novas variantes [da covid-19] com maior severidade" que poderão levar a uma "maior volatilidade nos mercados financeiros".
Quanto à digitalização, a CMVM destaca "o risco de ciberataques, cibercrime e de fraude, e ainda riscos decorrentes da prática de intermediação financeira não autorizada, da oferta de instrumentos a investidores com poucos conhecimentos financeiros e da disseminação de informação inexata".
"Outro risco reside no rápido crescimento de ativos alternativos e digitais (como os criptoativos) que se encontram, maioritariamente, fora do quadro regulamentar", acrescenta a autoridade presidida por Gabriel Bernardino.
Já em relação aos riscos ESG, o regulador afirma que, "a partir de certo nível, e não existindo uma correta mitigação, a sua materialização faz com que os respetivos efeitos negativos sejam irreversíveis".
"Os efeitos da inação humana na transição para uma economia sustentável serão sentidos, entre outros, no preço da energia, na disponibilidade de matérias-primas e de bens de produção, e em tensões sociais, o que limitará o crescimento económico e pressionará as taxas de inflação com impacto no desempenho dos mercados financeiros e na economia real", sublinha a CMVM.
No contexto macroeconómico e financeiro, o regulador diz que "a expectável normalização da política monetária, as pressões inflacionistas, o 'phasing out' [retirada progressiva] de apoios públicos a famílias e empresas e o fim das moratórias serão desafios particularmente relevantes em 2022, uma vez que poderá assistir-se à deterioração da situação financeira das famílias e Estados e ao avolumar de insolvências em alguns setores de atividade".
"Além da retirada de estímulos monetários, os sucessivos aumentos dos preços da energia, a disrupção de cadeias de abastecimento, o aumento dos custos de transporte de mercadorias, a escassez de matérias-primas e de mão-de-obra, o ambiente de incerteza e o desconhecimento face à evolução dos modelos de negócio no pós-pandemia podem desacelerar o ímpeto da recuperação", alerta ainda a CMVM.
Assim, para o regulador, continuarão a ser relevantes "os apoios que permitam transições tão suaves quanto possível quando ocorrer o fim das medidas públicas de apoio à economia".