Oposição acusa Governo da Venezuela de ceder soberania à Rússia no conflito com EUA
A oposição venezuelana condenou hoje a possibilidade de a Rússia enviar "equipamentos militares" para a Venezuela, caso aumentem as tensões com os Estados Unidos, e instou as Forças Armadas a fazer "respeitar a soberania".
"O simples facto de que um alto funcionário [da Rússia] tenha insinuado uma ação desse calibre representa uma transgressão absoluta da soberania nacional e da integridade do nosso território", afirma num comunicado divulgado em Caracas a oposição aliada a Juan Guaidó.
A oposição apela a "todos os venezuelanos, independentemente da ideologia política, que condenem esta grave ofensa contra a independência" do país.
"A Venezuela não pode ser utilizada como um peão num jogo geopolítico entre as potências do mundo", adianta.
"Esta ofensa contra a autodeterminação do nosso povo é da responsabilidade [do Presidente da Venezuela] Nicolás Maduro e da sua cúpula usurpadora do poder, que durante anos cedeu a nossa soberania aos hegemónicos antidemocráticos que ameaçam o Estado democrático e pretendem utilizar países independentes como meras peças no seu jogo de poder", explica o comunicado.
Por outro lado, a oposição venezuelana sublinha que desde 2019 "tem alertado e denunciado a presença de tropas militares e de armamento russo na Venezuela, sob uma chamada 'cooperação'" entre Caracas e Moscovo.
"Maduro tem comprometido grande parte dos ativos e recursos dos venezuelanos, como parte da pilhagem indiscriminada que se realiza à nação. As suas ações levaram a Venezuela a ser uma ameaça para a estabilidade do hemisfério ocidental, que deve ser controlada com urgência", explica.
Segundo a oposição venezuelana, a Constituição da Venezuela "exige que as Forças Armadas Bolivarianas (FANB) façam respeitar o território nacional".
"A perda de honra que sofreram (as FANB) como instituição devido ao seu apoio a um regime corrupto de tráfico de droga que tem cooperado com organizações terroristas transnacionais, tem hoje um novo fator agravante sob a forma da ameaça de tropas estrangeiras no nosso país. É vosso dever como soldados patrióticos rejeitar esta ameaça e fazer respeitar a nossa soberania como nação", explica o documento.
A oposição chama a atenção da comunidade internacional "para o facto delicado" de a Venezuela ser colocada no meio de "um conflito geopolítico que agrava a crise política e humanitária muito profunda vivida há anos" pelo país.
"A Venezuela não precisa hoje de tropas ou armas, precisa de ajuda humanitária e cooperação para o nosso desenvolvimento como país", sublinha.
O documento afirma ainda que a oposição vai avançar "com as ações pertinentes, no plano diplomático, para que a região e os organismos multilaterais se mobilizem contra a grave afronta" à Venezuela.
"É responsabilidade das nações empenhadas na democracia mobilizarem-se contra estas ações ingerencistas e acompanhar o desejo do nosso povo de viver em liberdade", conclui.
O vice-ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Riabkov, disse à televisão RTVI TV, que "não confirma nem exclui" a possibilidade de a Rússia enviar equipamentos militares para Cuba e Venezuela no caso de falhanço das conversações e de um aumento da pressão dos EUA sobre a Rússia, indicou a agência noticiosa Associated Press (AP).
Riabkov, que conduziu a delegação russa nas conversações com os EUA em Genebra na passada segunda-feira, notou que "tudo depende da ação" dos EUA, assinalando que o Presidente russo Vladimir Putin já avisou que Moscovo pode adotar medidas técnico-militares caso Washington provoque o Kremlin e acentue a sua pressão militar.
"O principal problema é que os EUA e a NATO não estão dispostos a efetuar qualquer concessão de qualquer espécie sobre os pedidos chave", sublinhou Ribakov.