Dou testemunho
01. De 1931 a 1974 vivi sob o regime da outra senhora, de coloração fascista identitária da Democracia Orgânica; assim designado pelo ditador António Oliveira Salazar.
De 1974 até 2020 tenho vivido sob o regime ditatorial da Partidocracia que vem lançando a Nação num rumo de perdição, ignomínia e desgraça.
Durante a vigência do corporativismo do Estado Novo fui tomando conhecimento de diversas manifestações de corrupção.
Quando eclodiu a revolução de 25 de Abril de 1974 tive esperança de que seria iniciada uma jornada de reabilitação da Pátria.
Infelizmente as minhas esperanças saíram goradas. A Revolução dos Cravos saiu escandalosamente traída por muitos que dela se vangloriavam. Disso, bastante tarde, se aperceberam inúmeros portugueses. Enquanto no estrangeiro não tardou que, nalguns sectores, surpreendentemente, tivessem tido essa percepção.
02. Na vigência do regime salazarista havia segregação social, censura, perseguição política, clientelismo, corrupção e distribuição de tachos.
Porém, pós 25 de Abril de 1974 tomou grande incremento a indústria tachista de textura política. Na hora actual ter-se-á atingido o apogeu da produção de tachos e de grandes panelões de que se vão aproveitando muitos comedores e comendadores que assentam à mesa do Orçamento com desenvoltura, arreganho e sem vergonha.
Bastantes detentores de tachos de avantajadas dimensões deles se aproveitam para acumularem bolos que distribuem entre si como se fossem cooperantes de uma comum tarefa gastronómica. E seguem o preceito oportunista expresso na seguinte formulação: “quem o bolo parte e reparte e para si não guarda a maior parte é tolo ou não tem arte”. Claro que como são distintos artistas, mesmo que atoleimados, superam a tolice e facilmente se apoderam da parte mais substancial da guloseima.
03. Isto escrito por oportuna extrapolação da notícia, ontem publicada, de anúncio de que os administradores do Banco de Portugal, generosamente, teriam atribuído a suas augustas pessoas aumentos de 50 % nos seus respectivos vencimentos.
Apesar de vivermos num tempo em que tudo de estranho, imoral, desordenado e indecente, acontece diariamente em Portugal, digo… só pode ser boato!...
04. Mas analisando a coisa sob outro prisma, mais objectivo, há que admitir a ideia de que - a ser verdadeira a notícia - mais generosos os administradores poderiam ter sido para com eles mesmos. Pois que estava-lhes ao alcance um aumento de 100%...
O governo apoiaria e felicitaria. A tríade, em formulação modernaça: clero, nobreza, povo, aplaudiria…
O Zé Povinho sublinharia o aplauso com um vigoroso manguito…
Brasilino Godinho