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O meu nariz não acaba na moleirinha

Há uns anos, quando chegaram à Madeira as primeiras casas de fast-food, andávamos de porta em porta à procura dos melhores hambúrgueres. Tirando uma que existe no topo da Rua da Carreira, que é regional e todos os funchalenses conhecem há quarenta anos, todos os outros locais tinham fama de vir daqui e dali e trazer as melhores ofertas com eles. Nas últimas semanas ando a debater com os meus amigos quais são os melhores lugares para fazer os testes rápidos. Não sendo propriamente fã da coisa, lá tive de me submeter às exigências de quem manda e entrei numa clínica perto de casa.

Acho que andamos todos à procura de um teste que não roce a nossa moleirinha. Eu tive azar e pensei que a minha tinha aberto outra vez, tal foi a força com que a “profissional” à minha frente me testou a massa cinzenta, a azul, a verde e sei lá que outras massas. Andou tudo tão à volta que achei que tinha acionado zonas do cérebro paradas e que ia sair dali a escrever com a mão direita, como a freira do colégio queria. Juro que quando saí pensei que tinha um buraco no alto da cabeça, mas o meu lado mau saiu com a certeza de que ela ficou com uma nódoa negra na parte da perna a que chamamos deliciosamente canela. Quando me levantei num salto, depois de a ter jogado para o outro lado do cubículo, ela, de zaragatoa na mão, disse que já era suficiente fazer a colheita numa narina. Não percebo porque nos sujeitam à tortura nas duas.

Que saudades eu senti da outra enfermeira que me fez um teste rápido a meio de uma chamada telefónica. Sentei-me na cadeira, pediu que baixasse a máscara e eu ainda não tinha endireitado o meu traseiro, mandou-me levantar e desejou-me bom dia. Eu continuei ao telefone como se nada se tivesse passado.

E se tivessem guidelines, dava jeito, não dava? É que agora as conversas mais frequentes entre grupos de pessoas é se doeu ou não. Passamos os últimos dias do ano a tentar perceber quem era o menos mau entre os que testam naturais e visitantes e quase andámos a consultar o trip advisor dos locais para perceber onde eram os melhores spots para os testes. Nem todos temos feitio para ser desmiolados (ficar sem os miolos) voluntariamente e nem todos queremos perceber até onde vão as nossas fossas nasais. É desnecessário. Estamos traumatizados. Era melhor clonarem a enfermeira boazinha. E experimentar o truque que me ensinaram de arregalar os olhos, como se tivéssemos ganho o Euromilhões, para a coisa se tornar mais fácil. Ou arranjarem finalmente uma forma de começarmos a falar dos saldos e de coisas que não sejam a zaragatoa que acariciou a moleirinha e deixa toda a gente com aquela sensação de que entrou um mosquito do dengue pelo nariz. Quando é que isto acaba?