Número de migrantes resgatados no Canal da Mancha bate recorde em 2021
O número de migrantes resgatados ao largo de Calais e acolhidos por França triplicou em 2021, ano que marcou um recorde de tentativas de travessia ilegal do canal da Mancha para o Reino Unido, avançaram hoje as autoridades francesas.
"O número de pessoas naufragadas ao largo de Calais e resgatadas por França foi de 1.002 em 2021", contra 341 em 2020, um aumento de 194%, disse o organismo francês de imigração e integração (Ofii).
No final de novembro, 27 migrantes que tentaram chegar à costa inglesa a bordo de um barco improvisado morreram na sequência do mais mortal naufrágio registado no Canal da Mancha, o que levou ao ressurgimento de tensões entre Londres e Paris sobre o tema das migrações.
Apenas dois refugiados sobreviveram à tragédia e fazem parte dos 1.002 migrantes resgatados no ano passado.
Este apoio representa "um esforço financeiro que não para de aumentar", afirmou hoje o diretor-geral do Ofii, Didier Leschi.
Além disso, o número de pessoas que vive em acampamentos improvisados naquela costa do norte de França, na esperança de fazer a travessia para o Reino Unido, e que foram "protegidas e encaminhadas para o sistema de acolhimento nacional foi de 31.103" no ano passado, um aumento de 239% em relação a 2020 (9.172), adiantou a mesma fonte.
No total, aponta o Ofii, foram acolhidas 9.779 pessoas em 2021, sendo que a proporção de famílias e de pessoas "vulneráveis" duplicou relativamente ao ano anterior, passando de 1.158 para 2.273.
As organizações que ajudam migrantes acusam regularmente as autoridades francesas de ter uma política dissuasiva no litoral para tentar travar o número crescente de migrantes.
Vários ativistas fizeram greve de fome entre outubro e meados de novembro de 2020 contra o desmantelamento quase diário de acampamentos e para denunciar o tratamento "desumano" dos refugiados.
"Não ter em conta os esforços do Estado para lidar com a complexa situação em Calais é participar na histeria dos debates sobre a imigração", criticou Didier Leschi, que lidera, desde outubro, uma missão governamental de mediação em Calais.
Na semana passada, a agência de notícias inglesa PA avançou, citando dados do Ministério da Justiça britânico, que, em 2021, pelo menos 28.395 migrantes atravessaram ilegalmente para a costa inglesa a bordo de pequenas e frágeis embarcações.
De acordo com os dados avançados, o número representa mais do triplo do registado no ano anterior (cerca de 8.400).
As travessias de barco aumentaram exponencialmente desde 2018, quando foram fechados o porto de Calais e o Eurotúnel, que os migrantes usavam para fazer a travessia escondidos dentro de veículos.
Só no mês de novembro do ano passado, quase 6.900 pessoas chegaram à costa inglesa, incluindo um recorde de 1.185 num só dia, referiu a PA.
As travessias do canal por migrantes que querem ir viver para Inglaterra tornaram-se uma verdadeira dor de cabeça política para o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, e para a sua secretária do Interior, Priti Patel, já que o líder conservador prometeu apertar as restrições à imigração após o 'Brexit'.
As autoridades britânicas consideram insuficientes os esforços desenvolvidos pelo lado francês para impedir os migrantes de embarcar na travessia, apesar de o Governo inglês ter acordado numa ajuda financeira a França para aumentar os esforços.