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Sustentabilidade e Resiliência

Quem está na origem do problema não pode depois tentar fazer crer que o quer resolver

A sustentabilidade deve ser assumida transversalmente, numa perspetiva clara, séria e inequívoca de definição de estratégias e criação de condições específicas para o bem-estar e desenvolvimento das gerações presentes, sem comprometer as necessidades dessas mesmas gerações no futuro e as necessidades das gerações futuras. Já não temos, pois, margem para registos individualistas, orientados para o imediato e para a satisfação de desejos ou interesses egoístas, muito pouco atendíveis e, em alguns casos, eticamente censuráveis. O conceito de sustentabilidade tem de se impor numa sociedade cada vez mais atenta e exigente, que tem vindo a saber aprofundar, desenvolver e implementar novos paradigmas orientados para uma maior sensibilidade e consciência relativamente a questões fundamentais, relacionadas não só com o ambiente, mas também com a economia, com as finanças, com a cultura, com o desporto, com a agricultura e com a justiça social que deve ser assumida com grande sentido de responsabilidade e respeito pela dignidade da pessoa humana, para além de qualquer representação vazia de protagonismos menores. Nunca me cansarei, por isso, de recusar a validação de qualquer tipo de registo que se alimente de fragilidades, muitas vezes criadas a montante, por ação ou por omissão daqueles que, depois, surgem a jusante a tentar fazer crer que estão a resolver um problema que, em boa verdade, eles próprios criaram.

Em todas as questões, quem está na origem do problema não pode depois tentar fazer crer que o quer resolver. Quem abandona um cão no início da rua não pode surgir, dias mais tarde, no fim da mesma rua, a recolher o animal, com registos fotográficos para redes sociais, tentando fazer crer que é profundamente sensível à causa animal. Está errado. E esta imagem, que pode até parecer demasiado simplista, deve levar-nos a uma reflexão que se impõe relativamente a uma realidade que não é assim tão incomum.

É evidente que este espaço não me permite aprofundar toda a abordagem relativa a este tema da “sustentabilidade”, mas não posso deixar de manifestar aqui ainda algumas preocupações relativamente à sustentabilidade financeira de municípios que registam indicadores preocupantes, por optarem por políticas esgotadas, que colocam todo o esforço financeiro sobre os munícipes, muitas vezes para fazer face aos custos de assessorias que visam apenas suprir deficiências daqueles que ocupam lugares de liderança, outras vezes devido à inércia ou incompetência inultrapassável, designadamente no não aproveitamento de fundos comunitários.

Sem políticas de sustentabilidade não asseguraremos os meios que nos permitam reagir, superar adversidades e atuar perante as inevitáveis mudanças de um mundo em constante transformação. Os conceitos de “sustentabilidade” e “resiliência” devem hoje ser assumidos como pilares absolutamente fundamentais de qualquer governação: mais que um desafio, é uma obrigação. Só assim se constrói o futuro.