No Faial “falta sempre qualquer coisa”
Na freguesia onde um dos ex-libris turísticos, o Fortim do Faial, continua trancado a cadeado, os faialenses queixam-se sobretudo das dificuldades na acessibilidade aos sítios mais interiores, das escarpas que perigam estradas, dos transportes públicos obsoletos e do Centro de Saúde que "só tem nome".
O significativo decréscimo populacional na freguesia do Faial, que só na última década perdeu 16,5% de fregueses, reflecte-se sobretudo na quantidade de casas fechadas, muitos terrenos deixados ao abandono e na fraca presença humana ao longo da extensa freguesia.
Exemplo desta realidade é o isolado sítio da Penha de Águia, que apesar de bem composto por moradias, muitas delas de construção recente, em grande parte destas não há ‘sinal de vida’.
“As pessoas mais novas foram trabalhar para o estrangeiro porque aqui não dá. Há muitas casas novas por aqui, mas quase todas estão fechadas porque os donos emigraram”, justifica Lídia Sousa.
Natural de Santa Cruz, mas a residir no Faial há 30 anos, assegura que o sítio servido por estrada sem saída “já foi mais sossegado. Já começa a haver algum barulho… mas é um sítio bom” conclui. A principal queixa vai para o perigo que diz ser a escarpa sobre a estrada.
“Aquilo está uma tristeza. Às vezes passamos com ‘o coração na mão’ a ver qual é o dia que cai as pedras em cima dos carros”, admite. De resto, faz notar que na freguesia “há sempre faltas”. “Supermercados não existem” e transportes públicos só na via expresso, junto à ponte dos Moinhos. “Já foi pior, mas ainda tinha muita coisa que se fizesse”, concretiza.
Quem também se queixa da “tristeza” que são os transportes públicos é Maria Sousa, residente no Lombo de Baixo, que regressava a casa depois de ter ido “regar uma raminha (batata doce)”.
Acusa os “horários” que passam no sítio de falta de manutenção. “Aquilo está uma porcaria”, afirma, enquanto dá conta de vários casos de viagens interrompidas porque o autocarro “estacou (avariou)”.
De resto, “vai-se vivendo conforme se pode”. Uma das maiores faltas é a freguesia não ter supermercado. “Para coisa pequenas, sim. Quando é coisas maiores, temos de ir a Santana ou a Machico”.
Resignado com a pacatez que impera junto ao ‘bairro’ das Covas, nas proximidades da igreja, Isidro Lopes conclui que o Faial está “sempre igual. Isto não melhora nem atrasa. É sempre a mesma coisa”.
O ex-emigrante e antigo vendedor ambulante na Portela não acredita no desenvolvimento apregoado. “Isto nem para a frente nem para trás. Quem quer que seja a mandar, isto não ‘cambia’ mais”, insiste.
Mais acima, no sítio da Diferença, José Victor admite que no Faial “falta sempre qualquer coisa”, embora o que há vai dando para “desenrascar”.
Apesar de dispersas, o jovem empresário agrícola admite ter boas parcelas de terreno onde produz quantidade, qualidade e variedade.
“É preciso é saber trabalhar e dar o que ela (terra) precisa. Para ela dar, também temos de meter lá”, avisa.
Sobre os serviços que a freguesia oferece, conclui que o Centro de Saúde “aquilo é só o nome”. De resto, faz notar que “tem o Continente em Santana e em 5 minutos estamos lá”. Quem não tem carro próprio “lixa-se”. A alternativa mais próxima são as mercearias no centro da freguesia.
Quem já teve bar e mercearia à entrada da estrada municipal que serve os sítios da Fazenda, da, de Água d’ Alto e do Lombo Galego, foi Maria Silva.
E ex-emigrante na Venezuela, só conheceu o pai ‘ao vivo e a cores’ quando aos 18 anos embarcou na aventura da emigração.
Foi depois de regressar ao Faial, onde investiu as poupanças dos tempos áureos do bolívar, que abriu o “negócio”, mas muito do que vendia era “fiado”. Acabou por fechar portas ainda no século passado com muitos fiados (que continuam) por pagar.
Sem grandes queixas da freguesia, constata apenas que “o Centro de Saúde está aberto mas quando é uma emergência vai-se a Santana, e se for de noite, é para Machico”, concretiza.