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Educar e comunicar biodiversidade

O risco associado à perda da biodiversidade é tão grande como a ignorância e insensibilidade que existe sobre o assunto

Ao contrário do que sucede com outras temáticas, a biodiversidade não conseguiu, até à data, o reconhecimento formal e material que lhe é devido se considerarmos a importância que as espécies, habitats, ecossistemas, assumem, na garantia de condições necessárias para que se possa falar em desenvolvimento neste, cada vez mais pequeno, planeta. Os compromissos e reconhecimento geral atingidos no quadro da Convenção das Nações Unidas para as Alterações Climáticas, quando comparados com a visibilidade pública, acordos e metas inscritos na Convenção sobre a Diversidade Biológica são evidências claras do quanto o tema biodiversidade está, ainda, longe da atenção e compreensão necessárias. Apesar de “gémeas”, já que ambas as Convenções nasceram durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, também conhecida como Conferência do Rio de Janeiro, em 1992, são distintos os caminhos, reconhecimentos e capacidades destes mecanismos operativos globais. As alterações climáticas enchem telejornais e jornais com evidências directas dos seus impactos sobre as vidas humanas, muitas vezes sob a forma de catástrofes associadas a eventos meteorológicos extremos como tempestades, cheias rápidas, derrocadas, com números arrepiantes, sejam de vidas humanas perdidas, casas, carros, estradas e outras infraestruturas destruídas e os respectivos custos económicos e sociais. O Acordo de Paris, com maior ou menor grau de efectividade e compromisso, ilustra também outra propriedade que as alterações climáticas possuem e de que não se encontra paralelo quando se aborda a biodiversidade. Emissões, temperaturas, presença e tipos de gases, tudo isso é mensurável e, consequentemente, passível de intervenção e monitorização em jeito de causa-consequência. “Basta” mudar determinada tecnologia ou matéria prima e temos resultados concretos, objectivos, que se podem medir, tal como as consequências dessas acções. Já quando se trata de espécies, comunidades, ecossistemas, não há conhecimento nem tecnologia disponíveis para garantir intervenção similar e, muito menos, os resultados surgem em tempo real. Restaurar um ecossistema degradado não é um processo tão linear como a substituição de uma tecnologia ou metodologia associada a um processo industrial. Por outro lado, a extinção de uma espécie, sobretudo se se tratar de um invertebrado ou uma planta, invariavelmente não ultrapassa a dimensão do simbólico. Resulta até em paradoxo que transforma uma entidade material, viva, em elemento de domínio intangível. Lamenta-se, de modo tão efémero e esquece-se em celeridade absurda. Não se consegue, com a biodiversidade, uma imagem de devastação ou choque com visibilidade suficiente para gerar interesse e compromisso com a urgência necessária. O risco associado à perda da biodiversidade é tão grande como a ignorância e insensibilidade que existe sobre o assunto. A ciência tem disponibilizado informação mais que suficiente para uma mudança de paradigma. Números indicam milhões de pessoas em exílio ambiental associado à degradação dos sistemas naturais mas o ritmo a que isso acontece é tão suave que não merece o protagonismo de outras situações extremas da condição humana.

É preciso outro tipo de educação e comunicação no sentido de garantir informação à sociedade, no geral e, especialmente aos decisores, cujos ciclos de vida, não se compadecem com o tempo da biodiversidade. São instrumentos fundamentais para uma mudança de paradigma que promova uma visão inclusiva, fundamental para perceber que, mesmo regulando o clima, não haverá perenidade para a espécie humana neste planeta se o resto das pressões sobre a biodiversidade não forem igualmente revertidas.