País

Avante!: 100 anos de "muitos sacrifícios", perseguições e torturas a não esquecer

Foto TIAGO PETINGA/LUSA
Foto TIAGO PETINGA/LUSA

Na 45ª Festa do Avante! estão expostas memórias, entre objetos e registos fotográficos, alusivas ao centenário do Partido Comunista Português, 100 anos de "muitos sacrifícios", perseguições e torturas, mas também "de luta" de um partido que diz ter futuro.

Junto ao pavilhão central do recinto do certame anual comunista, uma fila de visitantes aguarda a sua entrada na exposição sobre o centenário do PCP e nem o sol abrasador os demove, de crianças a idosos.

À entrada do espaço está Bruno Dias, deputado na Assembleia da República, que cumpre o seu turno de trabalho controlando o número de pessoas que entram no espaço, de forma a manter-se o distanciamento. Daqui a umas horas, é outro deputado comunista, Duarte Alves, que estará no seu lugar, e Bruno Dias rumará até à banca de Setúbal, para ajudar a fazer a massada de peixe para o jantar até às 21:00.

A abrir a exposição, um cartaz recorda o visitante de que o Partido Comunista Português foi fundado a 06 de março de 1921, momento que "resultou de uma necessidade objetiva em consequência do desenvolvimento do proletariado português, do amadurecimento da sua experiência e consciência social e política e da sua luta, sendo expressão da projeção da Revolução de Outubro de 1917".

Durante a tarde, Jerónimo de Sousa, secretário-geral dos comunistas, também visitou esta exposição.

"Um partido que rapidamente teve que passar à clandestinidade tendo em conta o golpe militar que conduziu a uma ditadura, um processo de resistência ímpar da parte do PCP ao longo de 48 anos demonstrando aos trabalhadores, ao nosso povo, a necessidade de um país em que prevalecesse a liberdade, a existência de direitos, particularmente para quem trabalha e naturalmente as paginas mais gloriosas aqui do nosso partido têm a ver com a Revolução de Abril", descreveu, em declarações aos jornalistas.

O líder comunista lembrou que foram 100 anos "de muitos sacrifícios, de perseguições, de tortura e às vezes até morte, mas simultaneamente também 100 anos de luta, de transformação, de conquistas, de avanços e derrotas, naturalmente".

"Mas até aos dias de hoje aqui está este PCP, honrando o seu passado, honrando a sua história mas em direção ao futuro", vincou.

O trajeto guia o visitante por uma história contada por ordem cronológica e, entre indicações escritas, também se encontram objetos com história, pertencentes a antigos presos políticos - como é o caso das tairocas feitas e utilizadas por Álvaro Cunhal na Fortaleza de Peniche ou até mesmo os seus púcaros de alumínio, indica a exposição.

Por entre corredores que lembram os tempos de clandestinidade dos comunistas, chega-se ao espaço evocativo da Revolução dos Cravos que, descreve o partido, "abriu amplas possibilidades para a atividade internacional do PCP e a solidariedade recíproca com partidos e povos em luta".

Já na reta final da exposição, o PCP faz menção a algumas causas mais atuais, entre elas, as condições laborais em período de pandemia: numa secretária vemos um manequim, com ar taciturno e roupas largas, acorrentado a um computador onde se lê "em teletrabalho". Atrás, o PCP escreve que "não tem que ser assim".

À saída, entre fotografias de membros da Juventude Comunista, o PCP vinca que "o Futuro tem Partido", mesmo passados 100 anos.

A edição deste ano da Festa do Avante decorre até domingo na Quinta da Atalaia, no Seixal (distrito de Setúbal). Mais de 60 debates e o comício pelas 18:00 de domingo compõem o programa político da rentrée comunista, enquanto os "duetos improváveis" preenchem as atuações musicais.

O tradicional certame político-cultural recebe este ano mais 23 mil visitantes do que em 2020, ainda com limitações devido à pandemia da covid-19, e será o ponto alto das comemorações do centenário do PCP.