Joana Vicente nomeada presidente executiva do festival de cinema de Sundance
A produtora portuguesa Joana Vicente foi hoje anunciada como a nova presidente executiva do Sundance Institute, que organiza anualmente o festival internacional de cinema de Sundance, referência da produção independente, anunciou hoje o Conselho de Curadores.
"Temos o prazer de anunciar que a nova CEO do Instituto será Joana Vicente, uma veterana dos meios independentes, uma produtora de sucesso e acérrima defensora dos artistas", lê-se no comunicado assinado pelos responsáveis máximos do Conselho de Curadores do Instituto Sundance, Pat Mitchell e Ebs Burnough.
Joana Vicente desempenhava as funções de diretora executiva do Festival Internacional de Cinema de Toronto (TIFF, na sigla em inglês), desde novembro de 2018.
A nomeação de Joana Vicente acontece na sequência da demissão da anterior presidente do instituto, Keri Putnam, que renunciou ao cargo no passado mês de março, depois de ter liderado o festival de cinema durante dez anos.
"Desde essa altura, o Comité do Conselho de Administração e a equipa de peritos da empresa [de recursos humanos] Spencer Stuart empreenderam uma pesquisa abrangente para encontrar (...) alguém capaz de manter o nosso compromisso" com o cinema independente e os seus criadores e, em simultâneo, de se "adaptar ao mundo em mudança", explicam os curadores.
"Ficámos inspirados e entusiasmados com a força, capacidade, saber e paixão" de Joana Vicente, lê-se na mensagem do Conselho de Curadores.
Joana Vicente - asseguram - "é uma prolífica produtora independente com laços profundos a Sundance". O seu percurso "na direção de um festival de cinema, o seu sucesso na angariação de fundos e no estabelecimento de parcerias, e a sua comprovada capacidade de lidar com as mudanças tecnológicas - juntamente com as formas de consumo do público - torna-nos extremamente confiantes de que continuará o trabalho de Sundance em nome dos artistas independentes dos Estdos Unidos e de todo o mundo".
O Conselho de Curadores recorda o trabalho recente de Joana Vicente como diretora executiva do TIFF e, nos dez anos anteriores, como diretora do Independent Filmmaker Project, a mais antiga e maior organização de cineastas independentes dos Estados Unidos.
Vicente "conhece em primeira mão o verdadeiro compromisso que Sundance tem com os criadores independentes", afirmam, recordando que, enquanto produtora, teve "projetos de laboratório apoiados pelo Sundance Institute e 13 filmes estreados no Festival", muitos deles premiados.
"Como nossa CEO, Joana será uma forte defensora das vozes independentes e fará avançar o compromisso histórico do Instituto com a inclusão e a igualdade" e com o "apoio a artistas visionários" no cinema, no teatro e nos meios de comunicação emergentes.
Joana Vicente foi nomeada pela Variety uma das 60 pessoas mais influentes em Nova Iorque e já recebeu o prémio Made in New York, que distingue contribuições significativas para o crescimento das indústrias de media e entretenimento da cidade.
Nascida em Macau, estudou Filosofia em Lisboa, foi assistente de Maria de Lurdes Pintasilgo no Parlamento Europeu e trabalhou nas Nações Unidas até se decidir pela produção de cinema nos EUA, em parceria com o marido, o produtor Jason Kliot.
Ainda antes de atravessar o Atlântico, foi assistente de produção de António-Pedro Vasconcelos e Paulo Branco, e teve uma breve participação como atriz no filme "A Cidade Branca", de Alain Tanner.
Em Nova Iorque, onde vive há cerca de 30 anos, fundou com Jason Kliot a Open City Films e a HDnet Films, empresas com as quais assinaram cerca de quarenta produções cinematográficas independentes para realizadores como Brian de Palma, Alex Gibney, Steven Soderbergh, Hal Hartley, Todd Solondz e Jim Jarmuch.
Em agosto de 2018, foi nomeada diretora executiva do TIFF, cargo que assumiu em 01 de novembro desse ano.
Hoje mesmo, o festival de Toronto felicitou Joana Vicente, que se manterá em funções até 31 de outubro, elogiando o seu trabalho e garantindo que não de trata de uma despedida, mas de um "até já, mais à frente na estrada".
Em 2018, quando assumiu funções, desenhou uma estratégia a longo prazo mais inclusiva e representativa da diversidade do setor, incluindo "criadores, artistas e 'media' sub-representados", tendo em conta o panorama de mudança com a coexistência de exibição e produção de cinema para sala e para consumo doméstico.
Em entrevista à Lusa, em janeiro de 2019, afirmou: " O que eu acho interessante que se está a passar é que as diferenças entre o que é produto de televisão e cinema começam a desaparecer um bocadinho. (...) Há uma maneira mais fluida de fazer bons conteúdos, seja para sala de cinema ou para plataforma digital. Mas ao mesmo tempo é um desafio, [perceber] como continuamos a ser relevantes e a dar razões para as pessoas irem à Lightbox e terem essa experiência mais imersiva".
Para a produtora e programadora portuguesa, o desafio da indústria do cinema é afinar o formato ideal, o tempo ideal para contar uma boa história aos espectadores.
Em 2008, quando passou pelo DocLisboa como júri, Joana Vicente contava à Lusa que a produção que faz "é bastante criativa", porque o envolvimento num projeto começa quase sempre no desenvolvimento do guião, a partir de uma ideia ou de um livro.
"Eu gosto imenso de produção, mas a parte que me faltava era essa parte criativa. Sobretudo quando trabalho com realizadores que não têm muita experiência dá-me imenso prazer tentar dar-lhe todos os instrumentos possíveis para que consigam realizar da melhor maneira a visão deles", disse Joana Vicente.
O Festival Internacional de Cinema de Sundance, o mais importante dedicado à produção independente, remonta a 1978. Na década de 1980, passou a ser gerido pelo Sundance Institute, fundado por Robert Redford, com o objetivo de ajudar novos cineastas independentes.
O festival acontece todos os anos, no mês de janeiro, em Park City, Utah.
Os realizadotes André Santos e Marco Leão, com a curta-metragem "Pedro", e Gonçalo Almeida, com "Thursday Night", foram selecionados para edições anteriores do Festivald e Sundance, que este ano contou com a coprodução portuguesa "Espíritos e Rochas: Um Mito Açoriano, da suíço-turca Aylin Gökmen, entre os filmes selecionados para competição.