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Conus, anzus, aukus, caucus

Disse um dia Bismarck, o Chanceler de Ferro, que “em política, o que parece, é”

Por vezes, torna-se difícil navegar no Mundo Novo das siglas e acrónimos. É como uma ciência oculta, reservada a iniciados. Mas tem o seu lado lúdico.

CONUS significa Continental United States, a parte contínua do território americano (ficam de fora o Alasca e o Havai); ANZUS é o tratado entre Austrália, Nova Zelândia e Estados Unidos, criado em 1951; AUKUS é a bombástica aliança agora criada entre Austrália, Reino Unido e Estados Unidos, ao arrepio de velhos aliados; caucus, na gíria política americana, é uma reunião informal e reservada, em que se tomam decisões por vezes importantes.

Quando um Presidente americano declarou publicamente que vital, para o seu país, era o CONUS, os aliados ficaram arrepiados: pensavam que a linha de força passava pela então Cortina de Ferro.

Esta linha de pensamento parece repetir-se agora com a AUKUS. Na sequência da pouco airosa saída dos EUA do Afeganistão, havia que encontrar novo elemento aglutinador, um “facto político” que desviasse as atenções e mobilizasse as gentes para a nova guerra futura. Daí a AUKUS, com pompa e circunstância, rabo escondido com o gato de fora, (re) definindo a nova área de interesse americana, o Pacífico, não faltando um gostinho anglo-saxónico na escolha dos selecionados parceiros. De fora ficaram o Japão, a Coreia do Sul, outros parceiros asiáticos, e até a Nova Zelândia, para não falar da Europa Continental e do Canadá. Foram excluídos do caucus.

Reagiu mal a França, não por ter ficado de fora, mais pela denúncia do contrato bilionário da construção de submarinos acordada com a Austrália, como se tudo não passasse de uma negociata, e não de um realinhamento estratégico. Desdobraram-se as diplomacias a explicar que ficava tudo como dantes, sem convencer ninguém.

Disse um dia Bismarck, o Chanceler de Ferro, que “em política, o que parece, é”. Mas há quem esqueça dessas e doutras lições.

Sabem bem os vietnamitas, os curdos e os afegãos que os aliados são descartáveis. Os outros aliados podem ser menos descartáveis, mas também o são.

De modo que ficamos a ver para que querem os australianos submarinos nucleares de ataque. Decerto que não para operar nas águas baixas dos mares da China Setentrional e Meridional, mas nas fundas águas do Pacífico, longe das armadilhas dos estreitos das muitas ilhas daquela zona. Ou seja, uma postura mais global, levando os conflitos comerciais com a China para outro patamar.

Também se explica a permanência, desde há algum tempo, do porta-aviões inglês Queen Elizabeth no Oriente. Decerto não se trata de um reflexo do BREXIT, e não será o prenúncio de uma espécie de NATOEXIT.

Mas é a reafirmação do tandem estratégico UK-US, que tanto irritava De Gaulle, e tanto anima hoje as instâncias europeias, que não parecem ter ainda chegado a um caucus.