Scholz deverá liderar negociações para formar Governo na Alemanha
Analistas alemães ouvidos pela agência Lusa acreditam que há "pressão" para que se forme um novo Governo "rapidamente" e, por isso, as negociações poderão estar terminadas ainda antes do Natal.
O Partido Social-Democrata (SPD) venceu as eleições parlamentares alemãs, com 25,7% dos votos, de acordo com uma contagem oficial provisória anunciada hoje pela Comissão Eleitoral Federal. A aliança conservadora CDU/CSU, liderada por Armin Laschet, obteve 24,1% dos votos, o pior resultado da sua história.
As opiniões dividem-se quanto às cores da nova coligação, que deverá ser formada por três partidos. Parece ser consensual a vontade dos principais líderes de acelerar as negociações, a par da pressão da União Europeia e do eleitorado, para formar um novo Governo o quanto antes.
"Está tudo em aberto na corrida à formação de um novo Governo (...) Vai depender muito do estilo de comunicação que vão utilizar durante as negociações", defendeu Oscar Gabriel, professor emérito da Universidade de Estugarda.
Para o politólogo, há "pontos programáticos em comum" que facilitam uma coligação entre a União Democrata Cristã (CDU) e os liberais do FDP, mas também entre o Partido Social Democrata (SPD) e os Verdes.
"O mais importante é conseguir convencer o partido que tem uma linha programática mais distante. Em caso de uma coligação 'semáforo' (com o SPD, Verdes e FDP), os liberais têm alguns requisitos muito difíceis de aceitar pelos Verdes e até mesmo pelo SPD, nomeadamente a subida de impostos", apontou o politólogo.
"Com a coligação 'Jamaica' será a mesma coisa, é muito difícil a integração dos Verdes porque eles colocam como foco a questão das mudanças climáticas. Claro que o FDP e a CDU não rejeitam completamente esta proposta, mas não querem avançar tão rápido como os Verdes", acrescentou.
Para Ulrich von Alemann, a opção mais evidente é uma coligação "semáforo" (Ampelkoalition), assim chamada por causa das cores dos partidos, neste caso o SPD (vermelho), os Verdes (verde), e os Liberais (amarelo).
"Scholz é o duplo vencedor das eleições. Por um lado, conseguiu mais votos que o candidato da CDU Laschet, por outro, deu ao seu partido mais 5,2 pontos percentuais em relação às últimas votações. Ele vai tomar a iniciativa nas negociações, falará com os Verdes e os Liberais, porque esta é a única alternativa realista para um novo Governo", revelou à Lusa.
O professor emérito da Universidade Heinrich-Heine de Düsseldor (HHU)lembra que uma formação "Jamaica" (com a CDU, os Verdes e os Liberais do Fdp) traz um problema acrescido.
"É preciso recordar que Christian Lindner (líder dos Liberais) abandonou as negociações, com a CDU e os Verdes, depois das eleições de 2017 para formar um Governo. Se agora aceitar, acredito que muitos apoiantes do partido não ficarão contentes", apontou.
"Primeiro decorrerão as conversas lideradas por Scholz. Talvez depois, se estas não resultarem, entre em cena Armin Laschet", acrescentou.
Os dois analistas políticos ouvidos pela Lusa concordam que as negociações não deverão demorar o tempo que foi necessário em 2017, quase seis meses. Olaf Scholz, vencedor das eleições, já sublinhou que as conversas deverão estar concluídas antes do Natal.
"Acho que é realista. Todos os partidos ainda têm na memória as negociações longas e aborrecidas de há quatro anos (...) Por isso acredito que, desta vez, cheguem a uma solução mais cedo", realçou Ulrich von Alemann.
"Não acredito que funcione assim tão depressa, mas também não me parece que dure tanto como há quatro anos. Há pressão para que se forme um Governo rapidamente, uma pressão da União Europeia, e dos eleitores que querem uma solução estável o mais depressa possível", avisou Oscar Gabriel.
Alemann não tem dúvidas que os próximos meses serão de muito entusiasmo.
"É uma mudança de poder, depois de 16 anos de Angela Merkel e de uma 'grande coligação', que de 'grande' tinha muito pouco. À partida não teremos uma coligação com estes dois partidos, por isso é um novo começo", concluiu.
Ainda de acordo com os resultados divulgados, os Verdes ficaram em terceiro lugar, com 14,8%, seguidos pelo partido liberal FDP com 11,5%.