Acabou a tortura
Apenas percebi que não percebi nada. Após as eleições vem a lenga-lenga do costume
Ufa! Que alívio! Acaba hoje! – até as próximas eleições, claro- as promessas falsas, a hipocrisia, as injúrias, as mentiras, as falsas coligações, as “facadas nas costas” aos amigos e os candidatos que só o foram para preencher listas à pressa para esta torturante campanha às Autárquicas. Meia conversa para falar mal dos adversários e a outra meia para prometerem tanto que a ser cumprido levaria todas as autarquias da Região a abrirem falência em menos de um ano. Haja bom senso, senhores concorrentes, não queiram passar um atestado de burrice à população.
De tantos e tantos debates os madeirenses apenas ficaram a saber que partidos e movimentos de cidadãos andaram a recrutar gente de todos os cantos da Madeira para preencherem listas. Isto não é democracia é oportunismo. Assim como assim, em tempo de crise e falta de emprego convinha arranjar um tachinho na política. Não quiseram saber se as pessoas tinham aptidões para desempenhar cargos autárquicos, não se importaram saber se tinham currículo técnico ou político, se eram corruptas ou honestas. Era botar o nome na lista e fazer um rabisco no lugar da assinatura, depois logo se vê. Atenção, longe de mim pôr em causa a capacidade de cada um, estou apenas a questionar se os recrutadores se preocuparam em saber da idoneidade dos candidatos.
Foi uma campanha baixa e sem nível que nada esclareceu. Perderam tanto tempo com maldizer que nem se lembraram de coisas essenciais como, por exemplo, esclarecer os eleitores que no dia 26 de setembro serão confrontados, nas mesas de voto, com três boletins de cores diferentes, os quais muitos eleitores irão questionar: para que servem os três? Eu só quero um, dirão. Não explicaram que serão confrontados com um boletim de voto, verde que serve para eleger os elementos das Câmaras Municipais, um boletim amarelo que servirá para eleger os deputados para a Assembleia Municipal e um boletim branco que servirá para eleger os elementos para as Juntas de Freguesia. Explicar isto seria tão básico mas crucial, pois, sobretudo os eleitores mais idosos têm dificuldade em compreender quem irão eleger e para que órgão autárquico. Depois é contar muitos votos nulos ou brancos.
Por outro lado, perderam tanto tempo a “lavar roupa suja” que não explicaram (talvez por que não sabiam) qual a função de cada órgão autárquico. Não disseram que ao elegerem os membros de uma Câmara Municipal, estão a eleger o poder executivo, aquele que governa a sua cidade. Ao eleger os deputados para a Assembleia Municipal estão a eleger o poder deliberativo, ou seja, os deputados municipais que irão aprovar ou chumbar atos ou deliberações do poder executivo. Também não se lembraram de explicar que ao eleger os elementos para a Assembleia de Freguesia estão a eleger o poder executivo, aqueles que governam a Junta e o poder deliberativo, aqueles que “fiscalizam” o executivo. Não, não estão a votar para as “casas do povo. Caros leitores, não foi a campanha que o povo queria, foi a campanha possível dada a impreparação dos candidatos.
Sei que muitos candidatos, quando forem a casa dos eleitores, busca-los de carro particular, com a desculpa que não têm meio de transporte, em ambulância para transportar falsos doentes ou em carro dos bombeiros porque têm o braço esquerdo engessado, tentarão explicar isto à pressa e indicar onde se põe o “X” no boletim mas como são três, as pessoas terão dificuldade em assimilar e ainda arriscam a botar a cruzinha no candidato errado.
Pois claro, senhoras e senhores candidatos isto não interessa nada o que importa é prometer, prometer mesmo que saibam que nunca conseguirão cumprir: É a promessa da baixa de impostos, é a construção de bairros sociais, são empreendimentos na Ilha do Porto Santo, são escolas a funcionar com 5 alunos -terão professores?- são estradas para abrir nos quatro cantos da ilha e até um parque estacionamento no Largo do Colégio. Até voltaram, imaginem, as espetadas e o vinho seco à moda do velho e arrogante governante, na inauguração de um pequeno troço da Via Expresso entre a Ribeira de S.Jorge e são Jorge, onde se “queimou” quase 39 milhões de euros. Será que os milhões da “bazuka” irão chegar para tanto esbanjamento e para o Zé encher o olho?
Confesso que com tantos debates fiquei mais baralhado que esclarecido. Não percebi, por exemplo, obras que são da competência do Governo anunciadas pelos candidatos autárquicos assim como obras da competência das autarquias anunciadas pelo Governo Regional. Apenas percebi que não percebi nada. Após as eleições vem a lengalenga do costume: Calma! As promessas foram para cumprir em 4 anos e ainda só passaram três anos e meio! E, em meio ano, recomeça a tortura.
No dia 26 vá votar, não deixe que os outros o manipulem e escolham por si.