Guterres considera que confronto entre EUA e China é "perigoso para o mundo"
O secretário-geral da ONU afirmou hoje que um confronto entre os Estados Unidos e a China é "perigoso para o mundo" e que, apesar das diferenças, há áreas onde podem ser alcançados acordos que levem a cooperação.
Em entrevista à cadeia televisiva CNN, António Guterres disse também estar preocupado com a divisão que existe entre países relativamente às vacinas, em vésperas da assembleia-geral da ONU, que começa na segunda-feira e que previsivelmente terá entre os seus principais focos de interesse a resposta à pandemia.
"Temos duas divisões em relação às vacinas: a primeira [refere-se ao facto de que] o norte" tomou conta da sua população, "esquecendo-se do sul, e o sul acha que isso é terrivelmente injusto, o que aumenta a desconfiança em relação ao norte", considerou.
Depois, há a divisão entre os EUA e a China. "Desde o início [da pandemia] falei com ambas as partes. E, como já disse, há áreas onde não é possível um acordo, em que a confrontação é inevitável e os direitos humanos são uma delas" e não é fácil ir além dessas diferenças, prosseguiu.
"Mas há uma área em que deveria haver uma cooperação efetiva, como é o caso das alterações climáticas, e há outras em que acredito que é necessária uma negociação séria", defendeu António Guterres, para sair do cenário atual de dois países "totalmente" em confrontação, algo que é "perigoso para o mundo".
Acrescentou que existem dois cenários opostos em várias questões como duas moedas dominantes, duas versões de inteligência artificial (IA), o mundo digital, duas estratégias militares em conflito, duas estratégias globais diferentes.
"Acho que temos que evitar outra guerra fria. A velha guerra fria era mais fácil de lidar, agora é mais complexo", considerou António Guterres.
O secretário-geral da ONU referiu que duas áreas onde poderia haver essa negociação são a tecnologia e o comércio, o que criaria "um ambiente de cooperação" que poderia levar a eventuais outros acordos.
Também disse que a situação para os países é mais ameaçadora com as variantes que surgiram da covid-19.
"A variante delta foi uma lição para muitos, incluindo os EUA", apontou, referindo tratar-se de uma lição em que é preciso agir rapidamente.
"Com o impacto que temos visto na economia global, é algo que temos de evitar a qualquer custo e acredito que nas próximas duas semanas veremos avanços". afirmou, considerando que, embora haja alguns sinais de cooperação nos esforços para enfrentar a pandemia, que os países deveriam ter-se reunido antes com este propósito.
"Sejamos claros: estes esforços chegam um pouco tarde. A realidade aqui é que a comunidade internacional não se sentou à mesma mesa", apontou Guterres.
Argumentou que existem "estratégias diferentes de países diferentes", o que tem conduzido a uma situação "totalmente inaceitável", de desigualdade com países como o seu - Portugal - com mais de 80% da população vacinada, enquanto nos países de África menos de 2% tiveram acesso a inoculações.