Conflitos em África são responsabilidade directa da UE, não dos EUA, diz ministro
O ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, defendeu hoje num fórum na Eslovénia que os conflitos em África são "responsabilidade direta" da União Europeia e "não dos Estados Unidos", pelo que os europeus não podem esperar pelos norte-americanos.
Convidado da 16.ª edição do Fórum Estratégico de Bled, no qual participa imediatamente antes de uma reunião informal de chefes de diplomacia da UE, Santos Silva, intervindo num painel sobre o Mediterrâneo, e numa altura em que a discussão se focava nas relações transatlânticas à luz da decisão de Washington de retirar do Afeganistão, sublinhou que "a região do Mediterrâneo não é só Afeganistão e Médio Oriente" e abordou então a relação com África e as responsabilidades da UE.
"Relativamente à nossa relação com África e a nossa responsabilidade face aos atuais desenvolvimentos em África, como a crise política na Tunísia, o caos na Líbia, o grave e preocupante conflito entre Marrocos e Argélia, estas são nossas responsabilidades diretas, dos europeus, não responsabilidade dos norte-americanos", enfatizou.
Santos Silva destacou que a UE até tem os instrumentos de que necessita, com destaque para a União para o Mediterrâneo, "no quadro da qual é possível avançar de forma prática e eficaz com programas de cooperação com o norte de África, que serão muito, muito importantes", em domínios como a Energia, o Ensino superior e a formação de jovens, e a organização de fluxos migratórios legais e regulares, além de uma nova agenda para o Mediterrâneo, aprovada pelos 27 no ano passado, e novos instrumentos financeiros para a cooperação.
"Portanto, esta é uma responsabilidade direta dos europeus, não podemos esperar pelos americanos. Esta é a nossa vizinhança. É um trabalho nosso, é uma tarefa nossa, não dos Estados Unidos", reforçou.
Após as suas intervenções no Fórum de Bled, Santos Silva participa numa reunião informal dos chefes de diplomacia da UE, denominada "Gymnich", dado a primeira reunião informal de chefes de diplomacia da então CEE, em 1974, ter tido lugar no castelo alemão com esse nome.
O encontro foi precedido de uma reunião informal de ministros da Defesa da UE, na qual foram discutidas as atividades operacionais da UE pelo mundo, incluindo a constituição da missão de formação militar em Moçambique, aprovada em julho passado pelos chefes de diplomacia.
Em declarações à Lusa, o ministro João Gomes Cravinho apontou que a missão de treino militar da União Europeia para Moçambique "é um assunto pacífico" entre os 27 e está a ser estabelecida com "muito consenso".
Depois de, à entrada para o encontro, já ter revelado que a missão "está a avançar muito bem", com "muitos contributos" dos Estados-membros, tal como evidenciou uma primeira reunião informal de representantes dos 27 celebrada na véspera em Bruxelas para decidir a constituição da força, João Gomes Cravinho, em declarações à Lusa após a questão já ter sido hoje discutida entre os ministros da Defesa da UE, reiterou que "vários países assinalaram a sua disponibilidade para participar".
"Essencialmente, Moçambique é um assunto pacífico [...] Vejo com grande satisfação que estamos a fazer esta caminhada no sentido de estabelecer uma missão de formação da União Europeia com muita tranquilidade, muita facilidade, muito consenso", declarou o ministro da Defesa nacional.
Um dos temas em destaque na reunião de ministros da Defesa foi a chamada Bússola Estratégica -- o documento que está a ser preparado pelos 27 a traçar a estratégia europeia na área da Segurança e Defesa -, tendo João Gomes Cravinho comentado que a experiência no Afeganistão "teve o condão de acentuar a importância" do reforço da capacidade estratégica autónoma da UE e saudado "o nível de convergência muito elevado" entre os Estados-membros em torno desta questão.
"A Europa tem de saber defender e promover os seus próprios interesses, aquilo que são interesses estratégicos da UE, mesmo quando não há outros parceiros que considerem interesses estratégicos, nomeadamente os Estados Unidos e a NATO", defendeu.