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Pentágono empenha-se em "tirar lições" da guerra do Afeganistão

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Os mais altos responsáveis do Pentágono empenharam-se hoje em "tirar lições" da guerra no Afeganistão, admitindo sentirem "dor e raiva" por terem deixado o país nas mãos dos talibãs, seus inimigos de há 20 anos.

"Nenhuma operação será alguma vez perfeita", reconheceu o secretário da Defesa norte-americano, Lloyd Austin, que falava publicamente pela primeira vez desde o fim da retirada caótica de 124.000 civis de Cabul, na noite de segunda para terça-feira, 31 de agosto.

"Queremos tirar todas as lições possíveis desta experiência", disse Austin, um antigo general que combateu no Afeganistão, depois de ter prestado uma homenagem solene e sombria aos 800.000 soldados dos Estados Unidos que se sucederam desde 2001 em território afegão, durante uma guerra que custou a vida a 2.461 deles, 13 dos quais nas últimas horas da retirada.

O chefe do Estado-Maior, o general Mark Milley, que também combateu no Afeganistão, reconheceu que estes últimos dias foram "extremamente difíceis emocionalmente".

"Estamos todos divididos entre dor, raiva, desgosto e tristeza, por um lado, e orgulho e resistência, por outro", afirmou.

"Aprenderemos com esta experiência. E o que nos levou até ela será estudado durante anos. Nós, os militares, abordaremos isto com humildade, transparência e franqueza", frisou, acrescentando que "há muitas lições táticas, operacionais e estratégicas a tirar".

O secretário da Defesa norte-americano admitiu que este fim de uma guerra iniciada em 2001 para expulsar os talibãs do poder poderá ser difícil de aceitar para os soldados que perderam irmãos de armas no Afeganistão, bem como para as famílias daqueles que lá perderam a vida.

"Sei que estes últimos dias foram difíceis para muitos de nós. Não podemos esperar de antigos combatentes no Afeganistão mais que dos outros norte-americanos. Ouvi opiniões muito duras nos últimos dias. É muito importante -- é a democracia", observou.

A intervenção militar foi iniciada em outubro de 2001, após os atentados de 11 de Setembro, que fizeram 2.977 mortos num só dia nos Estados Unidos -- o maior ataque terrorista infligido ao país no seu território e com vítimas civis, perpetrado pelos 'jihadistas' da Al-Qaida, com sede no Afeganistão e protegidos pelos talibãs.

Mas o que devia limitar-se a uma operação de retaliação evoluiu para uma vasta missão de reconstrução do país, para evitar um regresso dos talibãs ao poder, o que acabou por acontecer, a 15 de agosto.

Austin anunciou que se deslocará na próxima semana à região do Golfo, para onde os aliados dos Estados Unidos ajudaram a retirar refugiados afegãos.