Je suis Miguel Sousa Tavares
Os trabalhadores continuarão a receber ordenados de “miséria”, as empresas continuarão a “definhar”
Em entrevista ao Primeiro-Ministro António Costa, Miguel Sousa Tavares (MST) confrontou aquele com a carga fiscal/contributiva a que está sujeito um jovem altamente qualificado que, no seu primeiro emprego, aufira – hipoteticamente – a remuneração base mensal de € 2.700.
Em concreto, MST procurava saber se o PM de todos nós acha justo/razoável que, quem aufira um salário desta ordem de grandeza, esteja sujeito a uma “tributação” de 45%, ou mais, sobre os seus rendimentos.
Porque, excepção feita aos “boys” de juventudes partidárias que sejam “brindados” com cargos de nomeação política, ou aos jovens que tenham a sorte de encontrar emprego em países verdadeiramente capitalistas/liberais e desenvolvidos, é verdade que, em Portugal, nenhum jovem aufere, no seu primeiro emprego, uma remuneração destas – realidade que, aliás, o próprio MST expressamente admitiu –, o Sr. PM aproveitou a deixa/lapso, para fazer uma “piadola” e – como bem sabe – não responder à questão.
Paralelamente, e dado que, como “desabafou” MST, “o jornalismo pressupõe que a gente preste um serviço aos outros, que é dar informação aos outros, e eu acho que hoje em dia a maior parte das pessoas não quer ser informada, pelo menos através dos jornalistas, prefere ser desinformada através das redes sociais e estão contentes com isso”, inúmeros “idiotas” – no sentido, apenas, de que produzem ideias/opiniões como quem toma “bicas” – vieram “rasgar as vestes” nas redes sociais e afins, acusando MST de estar alheado da realidade e/ou a pensar em jovens “queques” e de boas famílias.
Como se fosse essa a questão relevante, e como se a resposta – que o Sr. PM se esquivou a dar – não fosse o que, realmente, interessa…
Pois bem, porque MST foi “desastrado” na forma como colocou a questão, e porque o Sr. PM foi “espertalhão” na forma como a contornou, não esclarecendo a matéria em apreço, informo os ilustres leitores do seguinte:
Quem, sendo jovem, ou não, aufira um salário base mensal de € 2.700, apenas leva para casa, em regra (pois a taxa de retenção na fonte de IRS pode variar para menos), € 1.701.
Em concreto, daqueles € 2.700, o nosso amigo Estado, “come” ao trabalhador, desde logo, e “à cabeça”, € 297 a título de contribuições para a Segurança Social e € 702 a título de retenção na fonte de IRS.
Mas o “saque” não acaba aqui!!
Para oferecer/pagar um ordenado mensal de € 2.700 a um dos seus trabalhadores, uma empresa tem que possuir/gastar, pelo menos, € 3.376, sendo € 641 para contribuições para Segurança Social (a acrescer às do trabalhador), € 27 para o fundo de compensação do trabalho e € 7 para o seguro de acidentes de trabalho.
Assim, por cada € 3.376 gastos pela entidade patronal, e por cada € 1.700 que um trabalhador leva para casa em troco do seu árduo – ou não – trabalho, o Estado “abicha”, em regra, outros € 1.676.
Ou seja, quase 50% da “riqueza” mensalmente gerada no âmbito da respectiva relação laboral!!
Mas, se extrapolarmos os cálculos para um ano de trabalho, constatamos que uma empresa que pague a um trabalhador um ordenado de € 2.700, vai ter que gastar, nesse ano, o montante total de € 47.913.
No entanto, e lamentavelmente – pois é este o país/sistema que temos – o trabalhador em causa só vai receber/usufruir o montante de € 23.800.
Assim, o Estado – esse “sócio” silencioso/ocioso de todas as empresas e de todos os trabalhadores portugueses – recebe € 24.113 sem nada fazer/produzir – pelo menos, no âmbito da relação laboral em causa –, obtendo, portanto, lucros/dividendos superiores a 50%.
Ou seja, a situação/estado de confisco tributário e contributivo que vivemos no nosso país, tal como salientada/configurada por MST, e que o Sr. PM se esquivou a comentar, constitui, sem dúvida, um excelente “negócio”!!
Pena é que, enquanto tal situação de mantiver, os trabalhadores continuarão a receber ordenados de “miséria”, as empresas continuarão a “definhar” e Portugal continuará a caminhar, a passos largos e irreversíveis, para o lugar de país mais pobre da União Europeia.