Carretas decrépitas e vazias…
Não consigo entender como é que alguém me vem prometer o céu e, quando podia, nem foi capaz de construir o purgatório…
Caminhava com meu pai, quando de repente me perguntou:
- Além do cantar dos pássaros, ouves mais alguma coisa?
- Sim! Estou ouvindo um barulho duma carreta.
- Isso mesmo! – disse meu pai – É uma carreta vazia.
- Vazia? Como sabe que a carreta está vazia se ainda nem a vimos? – perguntei eu.
- É muito fácil saber que uma carreta está vazia por causa do barulho. Quanto mais vazia a carreta estiver, maior o barulho que ela faz.
Passados muitos anos, quando vejo uma pessoa falando demais, gritando, numa postura de intimidação ou desrespeito pelo próximo, tenho a impressão de ouvir o meu pai dizendo:
- Quanto mais vazia a carreta, mais barulho ela faz!
São muitas vezes…
Com o decurso do processo eleitoral, tenho visto e lido demasiadas carretas vazias. Alguma informação até com mentiras e/ou deturpações de conteúdo, reveladoras de deficiente carácter, falta de educação, de princípios e de valores. Cada um terá as suas opções e todas eles merecem o meu respeito, desde que respeite as opções dos outros. A minha liberdade acaba onde a liberdade do outro começa. Atropelar, mentir, enganar… nunca!
Ainda por cima que muitas são carretas vazias com os carreteiros a se colocarem de cócoras. Isto é, não têm ideias para apresentar e fazer valer os seus méritos. Devem querer colar-se/lamber as botas aos que estão na linha da frente ou por cima. No entanto, lembrem-se: os que estão de cócoras só servem para os outros treparem (no sentido português do termo).
Oiço e leio promessas que, a partir de 26 de Setembro, vamos entrar no céu, no reino da Utopia. O melhor dos mundos. Mas a verdade é que, antes disso, teremos dez dias de promessas de vacas gordas e depois, de facto, teremos 3 anos, 11 meses e 20 dias de vacas magras… Não consigo entender como é que alguém me vem prometer o céu e, quando podia, nem foi capaz de construir o purgatório…
E voltando aos que estão de cócoras, compreendo que eles tenham de “gritar” porque, prostrados no chão, é mais difícil fazer-se ouvir a “cotas” superiores. E, aos prostrados, o que os espera é serem trepados (no sentido brasileiro do termo) por muitos: os que subiram à custa deles e os oportunistas que optaram por travessas e caminhos mais ínvios.
Daqui a duas semanas, as carretas barulhentas recolhem-se, ficam abandonadas e esperam mais uns anos para voltar à rua, com mais uns carreteiros de cócoras…
E eu a pensar que a política era feita com base em programas e acções a implementar em prol do povo! E que as críticas deveriam ser à incoerência, à inconsistência, ao incumprimento dos prometidos projectos políticos! Afinal como dizia alguém, mais uma vez:
- O povão só serve para votar!
E para pagar, outra vez, as dívidas que, desta vez, se vão gerando na mercancia dos votos!