O crescimento da esquerda Iliberal
O economista Milton Friedman disse uma vez que a “sociedade que coloca a igualdade antes da liberdade terminará sem nenhuma das duas coisas”
Começam a surgir algumas vozes (um pouco por toda a parte ), alertando para o modelo de pensamento restritivo de uma certa esquerda iliberal. A reputada publicação britânica The Economist fez aliás disso capa e tema principal, no principio deste mês, falando em “ameaça” e num contraponto perigoso com a já conhecida direita iliberal, por cá mais conhecida por extrema direita ou populista. De facto, se pensarmos um pouco sobre o assunto, facilmente conseguimos concluir que se o iliberalismo de direita é mais facilmente identificável, porque assume habitualmente posições mais próximas daquilo que achamos ser errado como a xenofobia ou a homofobia não será difícil de entender o outro lado, aquilo a que muitas vezes, nos dias que correm somos levados a construir na nossa mente como o politicamente correto, porque parte de uma base lógica e liberal de defesa da equidade mas que desagua nos mesmos processos ditatoriais .
Como refere e bem o The Economist “superficialmente, a esquerda iliberal e os liberais clássicos querem muitas das mesmas coisas. Ambos acreditam que as pessoas devem ser capazes de florescer independentemente da sua sexualidade ou raça. Ambos compartilham uma suspeita de autoridade e interesses enraizados. Como acreditam na conveniência da mudança.” No entanto as diferenças surgem de forma bem vincada na forma que escolhem para o atingir. As pessoas profundamente liberais acreditam na liberdade de expressão como expoente máximo da sociedade, onde têm lugar os que pensam como eles e os que pensam de forma diferente e que é no debate de ideias que se processa a democracia. Já os iliberais de esquerda “pensam que a equidade exige que o campo se incline contra aqueles que são privilegiados e reacionários. Isso significa restringir sua liberdade de expressão, usando um sistema de castas de vitimização em que aqueles que estão no topo devem submeter-se àqueles com maior direito à justiça restaurativa.” Esta corrente muito em voga nos Estados Unidos, em contraponto com o populismo Trumpista é facilmente exemplificada por Alexandria Ocasio-Cortez, política e ativista que apareceu num recente evento com um vestido que dizia “taxem os ricos”, numa tentativa desenfreada de colocar a sociedade em geral contra os que mais têm e os mais bem sucedidos, sem fazer distinção dos que são corruptos em relação aos que conquistam pelo seu próprio mérito (a julgar pelas fotos ninguém diria que estava revoltada, num evento onde cada bilhete custava 35.000 USD).
O economista Milton Friedman disse uma vez que a “sociedade que coloca a igualdade antes da liberdade terminará sem nenhuma das duas coisas”. Esta corrente de pensamento iliberal que se acha detentora da verdade não se coíbe de usar a intolerância como meio para atingir um fim, defendendo que tudo o que não couber no seu pensamento restritivo é uma ameaça e por isso deve ser banido. Basta ver a forma como nos tentam limitar nas mais pequenas coisas e impôr tantas outras. “Fumar faz mal”, ninguém pode fumar e os donos dos estabelecimentos não podem decidir se autorizam fumadores dentro dos mesmos. “Só os vegetais e as frutas fazem bem” então vamos proibir todos os outros alimentos. “Os animais são nossos amigos” por isso devemos obrigar os restaurantes a aceitá-los pouco importando o que pensam os clientes que os frequentam. “A nossa história foi colonialista e racista” então, ao invés de a estudarmos e percebermos o que foi feito de bom e de errado (para podermos crescer) devem apagar-se e destruir-se todos os símbolos e marcas da época e se possível reescrevê-la.
Estas formas de coação e este discurso de ódio têm vindo a condicionar até a forma como exteriorizamos o que pensamos. Segundo a referida publicação “nos Estados Unidos e na Grã- Bretanha 70 a 80% dos académicos não-alinhados confessam-se hostilizados pelos colegas e pelos estudantes e 68% dos estudantes admitem que não dizem o que pensam, não vão os colegas considerar as suas opiniões ofensivas.” Em Portugal vai grassando este pensamento numa ala mais à esquerda e que se vai estendendo por alguns sectores intelectuais da nossa comunidade pop/cultural. Mas é importante que comecemos todos a refletir sobre o assunto e a estarmos mais atentos a estes fenómenos, se queremos manter a pouca liberdade que (ainda) nos resta ou se queremos poder ter o direito de almejar a algo mais sem que (o futuro) nos apontem uma arma à cabeça.