Estudo pede decisões ambiciosas para travar aquecimento global
O aquecimento global será irreversível se as emissões de gases com efeito de estufa não forem reduzidas drasticamente antes de 2030, conclui um estudo publicado hoje pelo centro de estudos britânico Chatham House.
Na "Avaliação de Risco das Alterações Climáticas", ferramenta desenvolvida pelo Instituto de Relações Internacionais para informar chefes de governo e ministros antes da cimeira sobre a emergência climática COP26 em Glasgow em novembro, é pedido aos políticos "um aumento significativo na ambição e ação".
A análise dos especialistas da Chatham House revela que os compromissos assumidos pelos governos na cimeira de Paris em 2015 implicam menos de 5% de probabilidades de manter o aquecimento abaixo de dois graus Celsius e menos de 1% de mantê-los abaixo de 1,5 graus Celsius, as metas acordadas para travar as alterações climáticas.
Novas propostas de alguns países para reduzir ainda mais as emissões, as chamadas "Contribuições Nacionalmente Determinadas" (NDC) ficam aquém do que é necessário para manter o aquecimento abaixo do objetivo.
"O ritmo atual dos esforços globais de descarbonização colocou o mundo no caminho para um aquecimento de pelo menos 2,7 graus Celsius até ao final do século", podendo chegar aos 3,5 graus Celsius, alertam os autores do documento.
O relatório avisa que, a manter-se a atual tendência, por volta de 2030 as temperaturas extremas significarão que mais de 400 milhões de pessoas por ano provavelmente não conseguirão trabalhar ao ar livre e 10 milhões de pessoas poderão morrer anualmente devido à exposição ao calor.
Nos quatro principais países produtores de milho (EUA, China, Brasil e Argentina), a redução do rendimento poderá chegar a entre 40% e 70% na década de 2040, quando quase 700 milhões de pessoas estarão provavelmente expostas a secas severas e prolongadas de pelo menos seis meses de duração.
Em 2050, acrescenta o estudo, mais de 70% das pessoas em todas as regiões do mundo serão afetadas por vagas de calor anuais, reduzindo os rendimentos agrícolas em até 30%.
Dentro de menos de 80 anos, em 2100, o nível da água terá subido, pondo em risco quase 200 milhões de pessoas em todo o mundo, 60 milhões das quais estarão sujeitas a inundações anuais de rios, incluindo em cidades populosas como Xangai, Nova York e Calcutá.
Daniel Quiggin, investigador do Programa de Ambiente e Sociedade da Chatham House e um dos autores do relatório, alertou para outros riscos decorrentes das alterações climáticas.
Segundo o especialista, "existe a possibilidade crescente de que eventos relacionados com o clima desencadeiem uma sequência de incidentes relacionados em várias regiões e setores que poderão causar interrupção do comércio, instabilidade política, aumento da migração, aumento de doenças infecciosas ou até mesmo conflitos armados".