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Seres Humanos 2.0

A Humanidade chegou a um ponto crítico da sua evolução. De forma cada vez mais acelerada, as consequências da ação humana continuada sobre o planeta, estão a se abater sobre a nossa civilização. Os fenómenos ambientais extremos são cada vez mais frequentes e devastadores. Os tambores de guerra ecoam à distância. O retrocesso de direitos e liberdades faz-se sentir, cada vez mais.

Podemos dizer que chega a todas as pessoas de igual forma, que estamos todos/as no mesmo barco. De facto, é uma realidade. No entanto, o que observamos foi o que sempre aconteceu desde os primórdios de todas as civilizações que foram edificadas por nós na Terra, e citando George Orwell: “Somos todos iguais, mas alguns são mais iguais do que outros.”

Os países mais pobres são os que mais sofrem as consequências das alterações climáticas, da pandemia e das guerras. Têm menos meios para se reerguer e reconstruir, possuem sistemas de saúde mais frágeis e têm acesso desigual a vacinas e medicamentos. É onde também existe mais desigualdade e violação dos direitos humanos, das mulheres e das crianças. Lá, a pobreza e a forme caminham lado a lado, consomem vidas e toldam sonhos.

Ainda assim, muitos/as de nós olham de lado quando seres humanos, da nossa espécie, procuram refúgio no nosso continente. Quando fogem da guerra e da miséria, quando procuram um alento para continuar a viver. Propagam-se os preconceitos contra povos, muito mais rápido e de forma mais abrangente do que o SARS-CoV-2. As modas fazem com que as notícias sejam selecionadas deliberadamente, para influenciar o pensamento das massas e alimentar os medos primordiais.

No entanto, devido a localizações estratégicas ou luta por determinados recursos, muitos desses países são envolvidos em estratégias mundiais que visam alimentar o capitalismo selvagem. A nível de direitos humanos e, especialmente, das mulheres e crianças, algumas operações cosméticas são realizadas, alguns progressos também, mas as desigualdades estruturais mantêm-se. Havendo um conflito, uma crise, uma invasão, assistimos a recuos brutais nos direitos humanos.

Já dizia Simone de Beauvoir: “Nunca se esqueça que basta uma crise política, económica ou religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados. Esses direitos não são permanentes. Você terá que manter-se vigilante durante toda a sua vida.”

E são sempre as mulheres, e também as crianças, as primeiras a sofrer as consequências destes recuos. Poderia enunciar a crise no Afeganistão, no Iémen, na Nigéria… Ou olhar atentamente para cada país do mundo e observar de que forma os direitos têm sido postos em causa em nome disto ou daquilo.

Vivemos tempos turbulentos, e de grande transformação coletiva. Seremos capazes de ultrapassar qualquer crise se cooperarmos, em vez de competirmos ou guerrearmos. Se aprendermos a cuidar da nossa casa-Terra e se tivermos a coragem de fazer as mudanças necessárias, quebrando paradigmas e promovendo a igualdade e a equidade. Começando por nós e por quem nos rodeia.

Haja coragem de agirmos de forma igual em todo o mundo, sem hipocrisias ou distinções. Deixemos de cobiçar asteroides feitos de ouro, e passemos a cultivar meios de sarar as feridas da Humanidade e dar o passo evolutivo necessário.

Se cada um/a de nós fizer mudanças em si, no estilo de vida, no consumo, na ação, no pensamento, por mais pequenas que possam parecer, estaremos a criar uma nova realidade.