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Lémen vive "enclausurado num estado de guerra indefinido"

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O novo enviado da Organização das Nações Unidas (ONU) para o Iémen considera que o país, o mais pobre do mundo árabe, está "enclausurado num estado de guerra indefinido".

Hans Grundberg, um diplomata sueco que assumiu o cargo há quatro dias depois de ter sido embaixador da União Europeia no Iémen desde 2019, acrescentou na sexta-feira no Conselho de Segurança da ONU que não vai ser fácil retomar as negociações sobre o conflito que aflige o Iémen há mais de seis anos.

"Não há vitórias rápidas" na guerra civil do Iémen, frisou Grundberg, apelando a uma auscultação da população.

"As partes em conflito não discutiram uma solução global desde 2016", embora "há muito que se espera que as partes se empenhem num diálogo pacífico umas com as outras sob a mediação das Nações Unidas, nos termos de um acordo global, de boa fé e sem condições prévias", adiantou.

O Iémen tem vivido em guerra civil desde 2014, quando os rebeldes hutis, apoiados pelo Irão, assumiram o controlo da capital, Sanna, e de grande parte do norte do país, forçando o governo do Presidente Abd Rabbo Mansur Hadi a fugir para o sul e depois para a Arábia Saudita.

Uma coligação liderada pela Arábia Saudita entrou na guerra em março de 2015, apoiada pelos Estados Unidos, numa tentativa de repor Hadi no poder.

Apesar de implacáveis combates aéreos e terrestres, a guerra agravou-se, causando aquela que é considerada a pior crise humanitária no mundo e os Estados Unidos suspenderam o envolvimento direto no conflito.

A ação da ONU para pôr fim ao conflito deve incluir "uma participação significativa das mulheres", disse Grundberg, que planeia iniciar "em breve" as conversações com os iemenitas, bem como com as partes regionais e internacionais.

O Conselho de Segurança da ONU congratulou-se com a nomeação de Grundberg e, numa breve declaração, afirmou esperar que as partes envolvidas no conflito se encontrem com o novo emissário "e uns com os outros, de boa fé e sem condições prévias".

Sobre a complexa situação no Iémen, Grundberg acrescentou que o foco do conflito desde o início de 2020 tem-se centrado na ofensiva dos hutis na cidade de Marib, que custou a vida a milhares de jovens e deixou milhares de civis deslocados, a viver num clima de medo constante da violência e a serem obrigados a terem de voltar a deslocar-se.

Na principal cidade portuária de Hodeida, tem havido "um declínio notável nas violações do cessar-fogo", mas as hostilidades nos distritos do sul "são particularmente preocupantes", disse.

No zona meridional do país, têm-se registado regularmente manifestações de violência e os serviços básicos e a economia têm vindo a deteriorar-se, disse Grundberg, acrescentando que as queixas e as exigências do sul devem "ter um papel" na determinação do caminho a seguir.

Ghada Eltahir Mudawi, um director adjunto no gabinete humanitário da ONU, disse ao Conselho que "a ameaça de fome não acabou no Iémen", referindo que tem havido um aumento do financiamento dos doadores nos últimos meses, com a ONU a receber mais de 1,9 mil milhões de dólares, o que representa metade das suas necessidades.

Daí resultou um aumento da assistência por parte da ONU, abrangendo 12,8 milhões de pessoas em junho, mais 3,3% do que em maio, ao mesmo tempo que foi evitada a fome nos primeiros oito meses deste ano.

Mudawi acrescentou que um cimeira de alto nível sobre o Iémen ocorrerá no próximo dia 22, organizada pela União Europeia, Suécia e Suíça à margem da reunião anual de líderes mundiais na Assembleia Geral da ONU.