Matagal que envolve a Matur e lixo nos ribeiros domina as preocupações em Água de Pena
O aspecto desleixado da Matur, outrora considerada a primeira cidade turística da Madeira, e o pouco cuidado de alguns que teimam em atirar o lixo para onde lhes dá melhor jeito, motiva preocupações dos moradores na mais pequena freguesia do concelho de Machico, Água de Pena.
Embora o sentimento geral dos fregueses locais revela satisfação pelas condições gerais que a sossegada freguesia oferece, nomeadamente a proximidade aos serviços públicos essenciais, como ‘não há bela sem senão’, os principais reparos apontam no sentido do desleixo que parece imperar no outrora complexo turístico da Matur, onde as intenções de reabilitação continuam a não passar disse mesmo: de intenções.
O mato que prolifera nos espaços ‘verdes’ e a degradação de espaços públicos continua infelizmente a ser a ‘imagem de marca’ da outrora invejável Matur.
“Neste estado não se gosta de ver, mas já esteve pior”, salienta António Aveiro.
“Agora já está mais limpo e com melhor aparência em relação ao que estava há uns meses, que era bastante pior”, reforça o morador na Queimada de Cima.
António recorda com saudade a Matur quando ali existia o hotel Atlantis.
“Seria excelente poder voltar a ter espaço como era antes. Ver isto tudo limpo e bem organizado. Era um espaço nobre”, recorda.
Assinala com agrado a reabilitação de alguns espaços desportivos geridos pelo Ludens de Machico, na expectativa que tal possa servir de impulso à requalificação geral da ampla mata urbanizada.
De resto, assegura que a freguesia oferece muita qualidade de vida. “Fica tudo perto”, constata, referindo-se aos serviços públicos. E no geral também “está bem servida de transportes públicos”.
Ascensão Viveiros, a viver há 15 anos em Água de Pena, corrobora que a freguesia “é um lugar calmo, sem grandes complicações”, mas também garante que “tudo bem não está”. A principal queixa é o lixo que conspurca via pública e linhas de água.
“A dispersão de lixos nos ribeiros é uma vergonha autêntica”, critica. “Aqui parece que ninguém se preocupa com isso. É beiças de cigarros por todo o lado e fezes de cão, mesmo aqui junto desta superfície comercial”, denuncia, ao passar junto do bairro dos Pescadores, à entrada da freguesia.
“Nós somos os culpados disto, mas também parece que as entidades não estão muito interessadas em resolver esta vergonha. A câmara alega que é a ARM que está responsável por isso, e andamos nisto. Entretanto vem as chuvas, e onde é que isto vai bater? Ao mar, porque ninguém tem consciência da porcaria que estamos a fazer”, repudia.
No centro da localidade, Natália Mendonça e Conceição Sousa aguardam na paragem junto à igreja a chegada do autocarro.
“Gosto muito de Água de Pena”, diz Conceição, já com 89 anos de idade. Natália, a filha, concorda. “Temos supermercado, centro de dia, casa do povo e junta de freguesia, tudo aqui. Estamos bem. Antigamente era mais complicado, mas agora com o supermercado Continente, aqui em baixo, veio facilitar muito”, justifica. O único reparo é que “aqui às vezes pega muito vento”.
Num dos limites da freguesia fica o bairro da Bemposta. Aqui ‘nem tudo são rosas’. Tanto assim é que há quem recuse falar à reportagem por não poder falar de certos assuntos ou por medo de represálias. A presença de estranhos é logo denunciada pelo latir dos cães nas vigiam os apartamentos através das varandas. Num dos blocos, a música alta chega a quase todo o bairro.
“Está tudo bem. Da minha parte está tudo bem” responde Mário Cardoso, de alega ter pressa para ‘fugir’ às perguntas. A viver há 12 anos com a mãe na Bemposta, diz gostar de ali residir “a nível de casa” ao confessar que “a nível de certo pessoal, era melhor estar mais longe”.
Elisabete Sousa, que, entretanto, surgiu na varanda de apartamento no 1º andar, admite que o ambiente no bairro podia ser melhor, mas logo concretiza: “Para mim, está bom. Vai-se vivendo dia a dia”.