Mundo

Presidente do Brasil pede "calma" aos apoiantes que o acusam de "traidor"

None

O Presidente brasileiro pediu hoje "calma" aos seus apoiantes de extrema-direita, que o acusam de "traidor" depois de ter recuado nas suas ameaças à democracia e assegurado que não teve "intenção de agredir" os poderes.

"Há que ter calma. Não é possível ir para o tudo ou nada", declarou Jair Bolsonaro após críticas dos seus seguidores mais radicais sobre a sua mudança de tom em relação ao discurso inflamado que fez na terça-feira passada, quando, diante de uma multidão, instou à desobediência das decisões ditadas pelo juiz do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e teceu duras críticas ao Parlamento.

Essas manifestações, lideradas por Bolsonaro, foram convocadas por vários grupos de extrema-direita que, durante os protestos, voltaram a exibir inúmeros cartazes exigindo a "dissolução" do Congresso e a destituição dos onze magistrados do STF.

O tom desafiador de Bolsonaro deu ânimo a esses grupos, mas, após uma onda de críticas de todos os setores políticos e económicos do país, o Presidente recuou e divulgou uma "declaração à nação" na qual apelou à "harmonia" entre os poderes e atribuiu as polémicas declarações ao "calor do momento".

Além disso, Bolsonaro pediu a suspensão de um protesto de camionistas que bloquearam estradas em várias partes do país exigindo a dissolução do Supremo, pedido que foi aceite pelos manifestantes, embora com muita relutância e com críticas ao que consideraram "covardia" por parte do mandatário.

"Vamos voltar à normalidade. Esta terça-feira, dia 07, foi um grande dia. O retrato é para o mundo todo. Não foi em vão não, fiquem tranquilos", disse hoje Bolsonaro a um pequeno grupo de seguidores, perante os quais insistiu que a "declaração à nação" não era um recuo, mas uma tentativa de travar o possível impacto económico da paralisação dos camionistas.

"As pessoas sentiriam, complicaria a economia e traria mais inflação", justificou o Presidente em relação ao movimento levado a cabo pelos camionistas.

Apesar disso, muitos ativistas de extrema-direita invadiram as redes sociais, onde são febrilmente ativos, para mostrar o seu descontentamento e deceção com o Bolsonaro.

"Depois de uma demonstração de força do povo, o Presidente mostra fraqueza. Uma situação bem complicada para os patriotas. Bolsonaro pode ter firmado a sua derrota", escreveu o jornalista Rodrigo Constantino, uma voz influente do 'bolsonarismo'.

Já o pastor evangélico Jackson Vilar, organizador de muitos passeios de motocicleta que Bolsonaro costuma fazer, chamou o Presidente de "traidor" e disse que não tinha mais "o mínimo respeito" por ele.

Num vídeo que publicou nas suas redes sociais, foi mais longe e disse: "Queimei as minhas camisolas com o nome de Bolsonaro. Já não acredito naquele canalha."

A indignação de muitos 'bolsonaristas' aumentou quando se soube que o ex-presidente Michel Temer foi chamado pelo próprio mandatário para ajudar a conter o conflito institucional e que ajudou na redação da "declaração à nação".

A desilusão entre os 'bolsonaristas' chegou ao ponto de muitos grupos daquela base anunciarem que, no próximo domingo, apoiarão manifestações convocadas pelo centro e pela direita mais moderada para exigir a destituição do chefe de Estado.