ONU denuncia violência dos talibãs contra manifestantes
A ONU denunciou hoje, em Genebra, a "violenta repressão" dos talibãs sobre manifestações pacíficas no Afeganistão, que causou pelo menos quatro mortes, e apelou ao novo regime afegão a respeitar o direito internacional.
"Apelamos aos talibãs para porem imediatamente fim ao uso da força e à detenção arbitrária contra os que exercem o direito a protestar pacificamente e também contra os jornalistas que cobrem as manifestações", declarou Ravina Shamdasani, porta-voz do Alto Comissariado para os Direitos Humanos da ONU, num "briefing" da organização realizado em Genebra.
Segundo uma "contagem não exaustiva" do Alto Comissariado, quatro manifestantes foram mortos quando os talibãs dispararam balas reais, salientou Shamdasani, que também denunciou a proibição, pelo novo regime, de qualquer reunião não autorizada.
"De acordo com o Direito Internacional Humanitário, qualquer uso da força deve ser o último recurso em resposta às manifestações, devendo ser estritamente necessário e proporcional, pelo que as armas de fogo nunca devem ser usadas, exceto em resposta a uma ameaça de morte iminente", lembrou a porta-voz.
"Em vez de proibir protestos pacíficos, os talibãs devem parar de usar a força e garantir o direito de reunião pacífica e liberdade de expressão, inclusive quando as pessoas quiserem expressar as suas preocupações e usar o direito de participar na gestão do país", acrescentou Shamdasani.
"Enquanto os afegãos - mulheres e homens - saem às ruas para exigir pacificamente que os seus direitos humanos sejam respeitados nestes tempos de grande incerteza - incluindo o direito das mulheres de trabalhar, circular livremente, o direito à educação e à participação na política - é crucial que aqueles que estão no poder ouçam as suas vozes", frisou Shamdasani.
Para a porta-voz, a proibição de qualquer reunião pacífica constitui uma "violação do direito internacional", o mesmo sucedendo com o "corte de todo o acesso à Internet".
Nesse sentido, Shamdasani enfatizou que os jornalistas que cobrem esses eventos não devem ser sujeitos a "represálias ou assédio", lembrando os depoimentos de dois repórteres afegãos severamente espancados pelos talibãs.