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O padre que pôs os Prazeres no mapa

Perdi a conta ao número de vezes que ouvi a expressão “ninguém é insubstituível”. Mas todos sabemos que há uns mais insubstituíveis do que outros. A razão desta introdução mora no concelho da Calheta. Mais propriamente na freguesia dos Prazeres, num terreno que há pouco mais de vinte anos não era mais do que um simples apêndice nas traseiras da Igreja e que um padre e um grupo de fiéis soube pôr no mapa.

Há pouco mais de uma semana foi tornado público que o Pe. Rui Sousa, a seu pedido, foi afastado da paróquia onde prega desde os anos 90 do século passado. Com o afastamento por razões de saúde, também se fecha uma porta sobre aquilo que se espera que tenham sido os primeiros 21 anos da Quinta Pedagógica, pois a Madeira não pode dar-se ao luxo de perder o espaço que ocupa hoje um lugar especial nas memórias de muitos madeirenses e turistas.

Sempre acreditei que os licores, as compotas e os azeites eram benzidos antes de ir aos mais de cem concursos internacionais de onde regressaram com medalhas, algumas delas de ouro, mas a lógica faz-me perceber que, mais do que a Mão de Deus, o reconhecimento dos exigentes jurados veio pela mão de um grupo de paroquianos que se dedicou de corpo e alma a reinventar uma freguesia rural, à conta das fórmulas das suas iguarias. Trabalho que aos poucos foi sendo reconhecido pelas entidades oficiais e que foi ao longo do percurso, acarinhado pela Câmara Municipal.

Passei por ali muitas vezes ao longo destes vinte anos, ora levando as crianças (para as mães elas nunca deixam de o ser), ora para tomar chá com ervas ali plantadas, ou até para fazer reportagens sobre a mostra dos espantalhos, a mostra das camélias, a bênção dos animais, a debulha do trigo, todos motivos que um padre e um grupo de paroquianos, volto a dizer, encontraram para chamar gente. Até uma Galeria de Arte conseguiram erguer, por onde têm tantos e tão bons artistas.

Não sou apologista de que as pessoas se devam eternizar nos lugares, porque a saúde vale mais do que uma quinta e dezenas de prémios, mas faço votos para que a Diocese encontre um pároco capaz de honrar o legado de Rui Sousa. Independente das crises de fé que o povo tenha, o trabalho feito na paróquia foi uma lição de humildade e os projetos falam por si: uma casa de Chá, os animais, os pomares, os jardins com flores, ervas aromáticas e o pequeno Jardim Botânico, o Herbário Comunitário dos Prazeres Pe. Manuel de Nóbrega, o Museu Pe. Manuel de Nóbrega, a já citada Galeria dos Prazeres e a Casa da Sidra devem e merecem continuar de pé. Porque mais do que aquela freguesia ou o concelho, a Região e o país merecem um lugar assim.