Lukashenko reconhece ano difícil após eleições de 2020
O Presidente da Bielorrússia, Alexander Lukashenko, reconheceu hoje que o país teve um ano difícil após as eleições presidenciais de agosto de 2020, que foram declaradas fraudulentas pela oposição e por vários países ocidentais.
"Hoje, a Bielorrússia está no centro das atenções de todo o mundo. Como e porquê sabem melhor do que eu. Quero apenas dizer que não foi de livre vontade. Tivemos um ano difícil", disse Lukashenko em Minsk, citado pelas agências EFE e Associated Press.
Alexander Lukashenko falava na chamada "Grande Conversa com o Presidente", definida pela agência noticiosa estatal Belta como "uma reunião com o público, peritos e comunidade de meios de comunicação social no formato de uma grande conferência de imprensa".
Segundo Lukashenko, no mundo de hoje "a chamada democracia foi substituída pelo ditame digital".
"Cria-se um fundo emocional negativo na sociedade ou, como lhe chamam, ruído de informação, mas o mais triste é que este mundo virtual e artificial influencia a adoção de decisões políticas fundamentais e reais na arena internacional", afirmou Lukashenko.
O líder bielorrusso disse que o ano seguinte às eleições presidenciais de 09 de agosto de 2020 pôs à prova a "unidade nacional da Bielorrússia" e acusou a oposição de ter pensado num golpe de Estado.
"Realizámos então a preparação para a eleição nas condições de total transparência e democratização da vida política. A diferença era apenas que alguns estavam a preparar-se para uma eleição justa, e outros pediam para esmagar as autoridades para um golpe de Estado", disse.
A Bielorrússia foi abalada por meses de protestos desencadeados pela reeleição de Lukashenko em 2020, a maior das quais chegou a reunir 200.000 pessoas.
As autoridades bielorrussas responderam aos protestos com uma repressão implacável, com mais de 35.000 pessoas presas e milhares espancadas pela polícia.
Figuras importantes da oposição foram presas ou forçadas a abandonar o país.
Lukashenko considerou que os acontecimentos do ano passado fortaleceram a cooperação entre a Bielorrússia e a Rússia, defendendo que Moscovo era o alvo do "ataque externo".
"A Bielorrússia e a Rússia permaneceram sozinhas. O ataque externo foi dirigido à Rússia através da Bielorrússia, como sempre foi", disse.
Lukashenko também advertiu o Ocidente contra novas sanções contra a Bielorrússia porque poderiam ter "o efeito contrário" e afetar os países que as impõem.
"Eles [políticos ocidentais] precisam de começar a usar a cabeça e pensar cuidadosamente antes de tomar medidas contra nós, incluindo antes de introduzir sanções", disse.
Mais de 600 bielorrussos foram reconhecidos pelo centro de direitos humanos Vesná como prisioneiros políticos e estão agora detidos em várias prisões.
Lukashenko, que governa a Bielorrússia com punho de ferro há 27 anos, denunciou os seus opositores como lacaios de estrangeiros e acusou os EUA e os seus aliados de conspiração para derrubar o seu governo.
As autoridades intensificaram a repressão contra os dissidentes nas últimas semanas, visando jornalistas independentes e ativistas da democracia em centenas de ataques.
A Associação de Jornalistas da Bielorrússia informou hoje que, no ano seguinte às eleições bielorrussas, várias centenas de jornalistas foram presos no país e mais de 100 'websites' foram bloqueados.
"Atualmente, 29 jornalistas ainda estão presos e 50 estão sob processo penal", denunciou a associação.