Desporto

Ana Cabecinha cruza meta pelo pai

Portuguesa terminou 20 quilómetros marcha no 20.º lugar

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A portuguesa Ana Cabecinha homenageou hoje o falecido pai ao terminar a prova dos 20 quilómetros marcha dos Jogos Olímpicos Tóquio2020, após a qual vai ponderar o futuro da carreira desportiva e cumprir o seu luto.

"Foi mais difícil psicologicamente do que fisicamente. Tenho de estar feliz porque cheguei ao fim, depois de um ano tão complicado e tão duro que tive. Poder cortar a linha de meta foi maravilhoso", admitiu a marchadora, em declarações à agência Lusa.

A marchadora do CO Pechão, de 37 anos, terminou a prova disputada em Sapporo, a cerca de 800 quilómetros de Tóquio, no 20.º lugar, em 1:34.08 horas, a 4.56 minutos da vencedora, a italiana Antonella Palmisano, depois de uma época 'negra'.

"Eu tive covid-19 em janeiro, quando estava na melhor forma da minha carreira, e, em abril, perdi o meu pai. Fiquei sem chão e foi por ele que vim, porque em dezembro, quando fiz a marca, ele ainda estava comigo. Foi muito por ele que continuei a treinar e vim a estes Jogos, porque se não fosse pelo orgulho que ele sentia em mim eu não teria forças", afirmou.

Face a isso, perde significado o 20.º lugar na sua quarta presença olímpica, depois do melhor resultado das provas femininas de marcha, com a sexta posição no Rio2016 -- foi sétima em Londres2012 e oitava em Pequim2008 --, mas complica a definição do futuro.

"Para já, ainda não sei o que fazer. Quando se é 20.º e se perdem os apoios e não temos um clube grande para poder ajudar a preparar os campeonatos, não sei... Tenho de ir de férias, ponderar o que fazer da minha vida: se acabou ou se tenho forças para continuar e preparar Paris2024. Nestas semanas quero descansar e fazer o meu luto, porque ainda não tive tempo para o fazer", lamentou.

Na prova, Cabecinha acompanhou o ritmo inicial das comandantes da corrida, invariavelmente a brasileira Erica Sena, as chinesas Shijie Qieyang e Liu Hong, campeã olímpica no Rio2016 e tricampeã do mundo, e Palmisano.

Sem definição de líderes, face ao ritmo imposto pela dianteira, Cabecinha cedeu um pouco e passou a encabeçar o primeiro grupo perseguidor, atrasando-se alguns segundos: a meio da prova seguia a cinco segundos da frente e dois quilómetros depois já estava a 19.

A marchadora lusa empenhava-se em gerir o seu ritmo, enquanto Palmisano atacava para o triunfo, 'partindo' o grupo, ficando na dianteira com a colombiana Sandra Lorena Arenas, mantendo a Sena e Hong a cerca de 20 segundos Sena e Hong e a espanhola Maria Pérez a um pouco mais.

O pódio parecia estar fechado, mas, no último quilómetro, uma penalização de dois minutos imposta a Sena, retirou-a do pódio, relegando-a para o 11.º lugar, a 2.27 minutos de Palmisano. Arenas assegurou a prata, a 25 segundos da italiana, e Hong repetiu o bronze de Londres2012, a 45.

Enquanto Palmisano perdia a bandeira de Itália e cruzava a linha de meta, Cabecinha iniciava a última volta ao circuito do parque Odori, conseguindo, mesmo assim, a melhor marca pessoal do ano.