Bispos instam autoridades a desbloquear entrega de ajuda humanitária
A Conferência Episcopal Venezuelana (CEV) instou hoje as autoridades a desbloquearem a entrega de ajuda humanitária a várias localidades do Estado de Mérida, onde pelo menos 20 pessoas morreram e centenas perderam as casas devido ao mau tempo.
"Lamentamos e reprovamos a atitude de algumas autoridades civis, assim como da Guarda Nacional Bolivariana (polícia militar), que, longe de cooperarem desinteressadamente, não só impediram o acesso de uma grande parte da ajuda enviada de várias partes do país, como tiveram uma atitude de desrespeito e ofensa para com os membros da Igreja e outras instituições", lê-se num comunicado da CEV.
No documento, divulgado em Caracas, invocando as "comunidades afetadas", a CEV apela às autoridades "a mudar de comportamento e colocarem-se ao serviço das instituições colaboradoras, para que os carregamentos de ajuda cheguem rapidamente ao destino, dando prioridade ao trânsito de bens, mobilizando contingentes para abrir as estradas e outras ações para o bem da população afetada".
O que implica "assumir os princípios fundamentais da Constituição Nacional", acrescenta a CEV.
O apelo dos bispos surge depois de a imprensa, residentes em Mérida e várias organizações não-governamentais terem denunciado que a Guarda Nacional Bolivariana mantém retidos, desde há vários dias, camiões com ajuda humanitária destinada aos afetados, enquanto nas redes sociais há quem recomenda que as ajudas não sejam entregues aos militares.
Há também denúncias de que parte da ajuda humanitária teria sido tomada por autoridades municipais para ser distribuída com objetivos de campanha política.
No comunicado, a CEV faz ainda "um apelo às autoridades nacionais, regionais e militares, para que não atuem por interesses particulares" e que "devem recordar que estão para servir todos os venezuelanos e não uma parcialidade política".
Por outro lado, a CEV explica que "a resposta de solidariedade, tanto da Igreja Católica, como de outras denominações religiosas e instituições civis não se fez esperar" e que o mau tempo "gerou expressões de uma caridade sem limites".
Apesar do bloqueio que denuncia, a CEV afirma que "graças à resposta imediata de tantas pessoas de boa vontade", foi possível entregar "medicamentos, alimentos, roupa e outras ajudas necessárias".
A CEV destaca o papel da Cáritas na angariação da ajuda humanitária, e a "generosidade dos católicos, que em plena crise que empobreceu muitos, não hesitaram em partilhar o muito pouco que possuem".
Em 26 de agosto, pelo menos 25 portugueses e lusodescendentes ficaram sem eletricidade, comunicações móveis e parcialmente isolados nos municípios de Tovar e Zea, devido ao mau tempo que afeta o estado venezuelano de Mérida.
Chuvas torrenciais nos municípios de Tovar e Zea provocaram deslizamentos de terra, derrocadas e fortes correntes de água nos rios e ribeiros.
Dados provisórios dos serviços de Proteção Civil dão conta que "mais de 600 casas" foram totalmente destruídas e outras 804 parcialmente danificadas.
Pelo menos 20 pessoas morreram e, segundo a imprensa local, cerca dedez mil foram afetadas.
O Presidente venezuelano, Nicolas Maduro, decretou o estado de emergência em Mérida e ativou um programa "cívico, policial e militar" para dar resposta às pessoas afetadas por uma situação que atribuiu às alterações climáticas.