Fim aos Paralímpicos

Os Jogos Olímpicos são um evento de competição, onde a rivalidade é tendencialmente colocada de lado. Tornaram-se numa ocasião de união, inclusão e festejo da diversidade. A mais desejada reunião desportiva quadrienal é promotora da aproximação entre culturas e o respeito entre nações. Os Jogos Olímpicos têm sido em diversos momentos da história não só um palco do esforço, dedicação e superação, como também de marcos importantes da luta contra o extremismo, o racismo, o machismo, a homofobia, a exclusão cultural e o ódio, genericamente. Infelizmente, não foram nunca o palco da luta contra a exclusão social de seres humanos com deficiência.

Em 1960 realizaram-se os primeiros Jogos para pessoas com deficiência, sob a designação de “Paralímpicos”. Muito mais tarde, criar-se-ia o Comité Paralímpico e sequentemente a colaboração entre os dois comités, para a organização dos eventos. Não digo que não tenham sido momentos importantes e relevantes na história do desporto e inclusão social, porque foram. No entanto, passaram 60 anos dos primeiros Paralímpicos em 2020 e já seria hora de perceberem que há alguma coisa de errado neste conceito.

Ora vejamos: primeiro jogam as pessoas e depois jogam as “parapessoas”. Os primeiros são dignos de um nome histórico, os segundos são dignos de um “paranome”. Logotipos, lemas e tempos de antena diferentes. Um movimento que começou como tentativa de discriminação positiva, é em si uma discriminação negativa de pessoas que, na verdade, tiveram de lutar ainda mais para se superarem, muitas vezes desde o dia em que nasceram. Castigados pela vida e castigados pela discriminação social, quando chega o momento de celebrar a inclusão, encontram-se novamente excluídos. “Para-excluídos”, vá.

Recordo-me muitas vezes de uma colega da escola, com paralisia cerebral. Jogava Boccia. Corria o ano de 2000, quando pela primeira vez assisti com interesse a uns Jogos Olímpicos e questionei os meus pais quando seria a competição de Boccia. “Esse não é um desporto Olímpico, é Paralímpico”, explicaram-me. Por mais voltas que dê, ainda hoje não compreendo… Na verdade, ocorre-me uma palavra para os Jogos Paralímpicos: Aberração.

Por fim, digam-me: custava assim tanto serem justos e incluírem pessoas com deficiência nos Jogos Olímpicos? Nem me venham com tempo e espaço que em quase todas as edições são adicionadas novas modalidades. E não, obviamente um nadador com deficiência não iria competir contra o Phelps. Bastava tão só e simplesmente criarem categorias. Na verdade, bastava transitarem as categorias que já existem nos Paralímpicos para o lugar onde deviam estar. Estou certo que além de lhes ser dado o destaque e lugares devidos, seria um bom passo para a consciencialização e promoção da inclusão social. Tudo isto é na sua essência o contrário, é segregação social.

Mais rápido, mais alto, mais forte. Bom lema. Pena que não sirva às parapessoas. Para esses, serviu melhor “espírito em movimento”. Enfim, já é tempo de mudar e pensar diferente, ou seja, de pensar igual.

João David Seabra Catela