O futuro não está no regresso ao passado
Esta é uma publicação de opinião, a minha, e apenas a mim vincula.
Não quero voltar ao passado.
Não mesmo. Nem ao mais recente, nem ao mais longínquo. Depois de uma longa noite de ditadura tivemos a felicidade de acordar com a aurora da Democracia. Graças aos capitães de Abril foi-nos oferecida a Liberdade, conquistada com suor e lágrimas.
Volvidos 46 anos, o que sinto e vejo hoje é que há uma classe política plastificada em ascensão, apostada na alienação, na ignorância a voluntária para se perpetuar no poder, desvirtuando os valores de Abril.
Tudo parece tão distante do que um dia sonhei viver em Democracia: Saúde, Educação, Trabalho, Liberdade e Igualdade de oportunidades para todos. Ainda hoje há tantos homens e mulheres para quem a Liberdade é apenas uma miragem e as oportunidades são apenas para muito poucos. Meia dúzia de ricos estão cada vez mais ricos e o exército de pobres é incomensurável. Não foi por isto, nem para isto, a revolução dos cravos.
No clima pré eleitoral que se vive no país e na Região é notória a diferença entre os vários candidatos e respectiva campanha nos mais variados aspectos: na logística, na visibilidade, nos meios de comunicação escrita ou falada, nas redes sociais...Será discriminação ?
Não sei de onde provêm as verbas que dispõe cada um dos candidatos, mas sei que, por alguns deles, o balúrdio gasto com cartazes, camisolas, bonés, brindes, panfletos e afins, aplicado em agasalhos, sapatos e mantas cobririam e calçariam muitos indigentes e sem abrigo que até costumam estar deitados na via pública, por baixo dessa propaganda. Poupar-nos-iam à poluição visual e fariam um acto de caridade como gostam tanto de apregoar.
A propaganda ilude os reais problemas que afligem a nossa sociedade, sobretudo as franjas mais vulneráveis .Há tanto optimismo que chega a ser irritante e até ridículo, năo sabendo nós o que nos espera. Penso que ninguém compra um livro atendendo apenas ao aspecto da capa. É preciso saber se o conteúdo justifica a sua compra, recorrendo a quem já o leu ou tenha alguma experiência na matéria. Como diz o Papa Francisco, não bastam os likes para viver. É preciso fraternidade, alegria verdadeira. Há, porém, quem não os dispense e afira o seu nível de popularidade pelo n.° deles nas suas publicações pessoais ou “oficiais “nas redes sociais a que quase todos nós estamos ligados. Há quem não goste de ser confrontado com opiniões discordantes das suas. Há quem tenha hostes de seguidores, entre os quais estão dissimulados os falsos, os hipócritas, os mentirosos, os cínicos porque, em nome do tacho e do penacho, são capazes de “vender a alma ao diabo”. Há quem diga sim, querendo dizer não. Porque se sente coagido e alvo de perseguição ou pressionado. Há quem comungue e apoie outros pontos de vista, mas na clandestinidade. Não vá, por portas travessas, a informação chegar ao “ídolo” e ou o seu estatuto de pseudo/fiel seguidor vá por água abaixo.
Há quem não leia nada e saiba tudo. Há quem leia tudo e faz de conta que não sabe nada. Isto não é ficção. É verídico.
Não é esta a Democracia que eu quero. Não quero voltar ao passado. Acho que ninguém, no seu perfeito juízo, não quererá. O passado nunca está fechado. Há sempre história para contar. Mas o futuro não mora lá.
Madalena Castro