Eleições Autárquicas Madeira

'Desintoxicar' o bairro de Santo Amaro e alargar veredas nas zonas altas

Quem vive na freguesia de Santo António admite ter praticamente tudo 'à mão', mesmo os que residem nas cotas mais elevadas onde a Cota 500 veio facilitar o acesso... e o estacionamento.

None

Pior que as dificuldades ‘naturais’ de quem vive nas zonas altas de Santo António, devido sobretudo aos constrangimentos na acessibilidade, é o medo que perdura instalado no bairro de Santo Amaro, onde a droga continua a aterrorizar quem vive cercado pela preocupante realidade. Aqui o receio de represálias justifica a recusa dos moradores quando desafiados a falar do dia-a-dia no bairro. Todos ‘fogem’ à reportagem.

Fátima foi a excepção. Mas apenas para tocar ao de leve na ‘ferida aberta’ do mundo obscuro que atormenta muitos residentes locais.

A mulher que há 13 anos deixou a zona de São João para ir viver no bairro de Santo Amaro, lamenta a ‘má sorte’.

“Não tem nada a ver, nada! Sabe o que é nada? Começando pela drogaria, não tem nada a ver. Ali é o centro deles. Cá tenho medo. Ali é o piorio. Devia de ter um posto de polícia”, defende, apesar de admitir que são eles que vigiam a polícia e não o contrário.

A funchalense também está convicta que o custo de vida em Santo António é superior em relação à parte baixa da cidade.

Embora considere que a freguesia “tem tudo” e está “bem servida” de serviços públicos, garante que também “é tudo mais caro. Tudo: água, luz, gás, é tudo mais caro que nos outros lados. Podem dizer que é mentira, mas é verdade”, afirma, antes de dar a justificação para a conclusão. “Antes morava em São João e não pagava semelhante coisa que pago aqui. E lá tinha quintal e aqui é num apartamento”, compara.

Mais acima, nas Courelas, Maria Serrão não tem razões de queixa. Para a câmara-lobense a viver em Santo António há 28 anos, a freguesia “tem tudo à mão”, razão para dar nota de estar “muito satisfeita”.

“Acho que tem condições boas para viver. É cada qual na sua vida e não se dá troco a bilhardices”, atirou, enquanto aguardava na paragem pelo autocarro.

Empregada doméstica a trabalhar em vários sítios da cidade, elogia a rede de transportes públicos.

“Não anda de camionete quem não quer. Está sempre à disposição. Se não há numa hora, há noutra. De hora a hora há sempre carro”, concretiza.

Na zona do Vasco Gil, na ‘Doçaria’, encontramos Lilia Pestana. Moradora na Chamorra, destaca o aumento do movimento rodoviário na estrada de acesso ao Curral das Freiras. Realidade que associa ao acréscimo de residentes nas zonas altas.

“As pessoas também já estão a vir mais para cima. Não é só no centro e aqui temos tudo. Temos o Madeira Shopping, temos Santo António, temos bancos, temos tudo o que se precisa. E também estamos perto do Funchal (baixa)”, sublinha.

A loja que explora serve sobretudo “para promover” a fábrica montada no primeiro andar da ‘moradia’.

A Cota 500 facilitou o acesso às zonas altas… e também o estacionamento.

No Lombo dos Aguiares, junto à centenária Mercearia Gama, Celso Gonçalves traça o retrato dos novos tempos.

“A freguesia tem tudo o que a gente precisa. Tem-se autocarros, farmácia tem-se acolá em baixo, em Santo António, só se precisava de mais estradas para desenvolver esta parte alta: alargamento de becos como caminhos agrícolas. Dava mais desenvolvimento aqui à parte de cima. Era bom que houvesse ligação ao Curral Velho e à Barreira, para haver circulação e garantir uma alternativa”, reclama.

Conclui que “existem sempre pequenos problemas” e a população quer sempre melhor, mas basta recuar algumas décadas para assinalar que actualmente é muito mais fácil chegar com o carro às zonas altas e mais ainda com a abertura da Cota 500 que “melhorou muito” os acessos aos lombos de acentuado declive.