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Ameaça terrorista obriga a concluir operações de retirada

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A Alemanha admitiu hoje que a ameaça terrorista no aeroporto de Cabul está a reduzir o espaço de manobra das operações de retirada de pessoas ainda em curso e a colocar todos os envolvidos numa situação "extremamente perigosa".

"Sabemos que a ameaça terrorista se tornou muito mais aguda e marcadamente mais concreta", declarou a ministra da Defesa alemã, Annegret Kramp-Karrenbauer, numa conferência de imprensa, classificando a situação atualmente vivida no aeroporto internacional da capital do Afeganistão como "extremamente difícil" e "extremamente perigosa" para todos os envolvidos.

Annegret Kramp-Karrenbauer acrescentou que as "possibilidades operacionais" de acesso ao aeroporto e dos aviões do exército alemão destacados no local se tornaram "ainda mais reduzidas", mas assegurou que as forças alemãs estão a trabalhar "fervorosamente" na retirada daqueles civis que ainda consigam chegar ao local nas atuais e difíceis condições.

Desde que os talibãs entraram na capital afegã e assumir o controlo do Afeganistão, no passado dia 15 de agosto, milhares de pessoas têm convergido para a zona do aeroporto internacional de Cabul para tentar sair do país antes de 31 de agosto, data fixada (e mantida) pelo governo dos Estados Unidos da América (EUA) para a retirada final das suas forças do solo afegão.

Nas últimas horas, EUA, Reino Unido e Austrália alertaram que o aeroporto de Cabul está sob uma elevada e "iminente" ameaça terrorista por parte do grupo 'jihadista' autoproclamado Estado Islâmico (EI).

Em linha com os parceiros norte-americanos, britânicos e australianos, o Ministério dos Negócios Estrangeiros alemão está igualmente a pedir às pessoas no Afeganistão para não irem para o aeroporto e a procurarem um local seguro até novas ordens.

Na mesma conferência de imprensa, Annegret Kramp-Karrenbauer salientou a necessidade de garantir a segurança dos civis em processo de retirada e das tropas alemãs perante uma "crescente" e "muito concreta ameaça" de um ataque conduzido pelo EI.

Esta situação, que se aplica a todos os países ocidentais presentes em Cabul, revela, segundo acrescentou a ministra alemã, que "a primeira fase da retirada urgente vai ser encerrada" e que, como tal, "é ainda mais importante avançar sem interrupções para uma segunda fase" que será "de natureza mais diplomática".

Até ao momento, um total de 5.347 pessoas de 45 países, incluindo mais de 4.100 afegãos e 505 alemães, deixaram o Afeganistão com o apoio da operação de retirada conduzida pelas forças alemãs.

Perante a ameaça terrorista e a saída confirmada das tropas norte-americanas na próxima terça-feira, vários países já interromperam ou já anunciaram que vão interromper as operações de retirada de pessoas do território afegão, como foi o caso da Dinamarca, Bélgica, Polónia, Países Baixos ou de França.

O mais recente anúncio surge por parte do Canadá que anunciou hoje que concluiu as operações e que o último avião militar canadiano saiu há algumas horas do território afegão.

"O último voo deixou o país há oito horas" e apenas "uma pequena equipa de ligação permanece no terreno", informou um representante do Ministério da Defesa canadiano, o general Wayne Eyre, afirmando que as circunstâncias na zona estão a "deteriorar-se rapidamente".

Os aparelhos militares canadianos retiraram do Afeganistão cerca de 3.700 pessoas.

O porta-voz do Pentágono (Departamento da Defesa dos EUA), John Kirby, anunciou, entretanto, que uma explosão ocorreu hoje junto ao aeroporto de Cabul, sem conseguir ainda fornecer um balanço de eventuais vítimas.

A tomada de Cabul pelos talibãs foi o culminar de uma ofensiva que ganhou intensidade a partir de maio, quando começou a retirada das forças militares norte-americanas e dos seus aliados da NATO, incluindo Portugal, do território afegão, após uma presença que durou 20 anos.

As forças internacionais estavam no país desde 2001, no âmbito da ofensiva liderada pelos Estados Unidos contra o regime extremista, que acolhia no seu território o líder da Al-Qaida, Osama bin Laden, principal responsável pelos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001.