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A Ópera-bufa

A um mês das eleições autárquicas está instalada uma sonora, ridícula e inútil ópera-bufa. A ópera é cantada pelos do costume, que se aproveitam de recursos ultrapassados para instaurar uma autêntica central de denúncias, com base anónima como convém, porque os covardes chafurdam naturalmente no anonimato como pântano da sua mediocridade, pequenez e falta de coragem.

A dita ópera-bufa aproveita-se da Comissão Nacional de Eleições para exercer uma prática que choca os princípios democráticos que supostamente dizem defender. Então é vê-los, sentados no conforto das suas cadeiras em frente do computador, onde exercem o seu vergonhoso ofício nas redes sociais e nas queixas mal escritas e mal fundamentadas que enviam para a CNE. Tudo numa tentativa antidemocrática de silenciar quem é legitimamente eleito, de impedir o contacto e informação com a população e até de impedir o trabalho que só termina com a realização de novas eleições.

Lamenta-se, como é óbvio, tudo isto, mas lamenta-se também que o país ainda viva esta espécie de minoridade democrática. Uma minoridade que ofende não apenas a democracia, mas a inteligência de um povo que já se habituou à liberdade e às suas possibilidades, e que, por isso mesmo, não precisa desta ópera-bufa montada e sustentada por organismos ultrapassados nas suas práticas e nas suas regras.

Esta é uma ópera-bufa que permite, por um lado, que os eleitos sejam atacados, e que, por outro lado, os impede de exercerem a sua defesa enquanto eleitos. Refira-se que a maioria dos ataques é contra quem exerce o cargo e não contra o recandidato a esse mesmo cargo.

No ruído que tudo isto instaura no processo democrático, que já deveria se ter livrado, há muito, destas infantilidades, quase que ninguém nota quem os anónimos que se queixam integram partidos que sustentam um Governo que anda com os candidatos a reboque para as iniciativas governamentais. Aí sim numa promiscuidade criticável, que nada tem a ver com um autarca ainda em exercício do seu mandato, a fazer o que sempre fez. Ou seja, a comunicar com os seus munícipes e a trabalhar em prol do seu concelho.

Felizmente, como bem sabemos, os cães ladram e a caravana passa. Felizmente, o povo já é rei e tem olho na sua terra. Felizmente, já todos sabem que à mulher de César não basta ser honesta, tem também de parecer. O pior é que os autores desta ópera-bufa não parecem, nem são.