As bombas de Agosto!
A Mãe Enola transportou o Little Boy. Ficaram na História sem deixarem ensinamentos
Foi em Agosto, no dia 6 de Agosto de há 76 anos que do ventre de um superbombardeiro americano saiu a primeira bomba atómica (Little Boy era o seu apelido!) que arrasaria a cidade de Hiroshima, no Japão, matando directa e indirectamente cerca de 100.000 pessoas, civis que nada tinham a ver com a voragem da guerra em que o seu País estava envolvido. Dias depois, no dia 9 de Agosto, foi a vez da “Fat Man”, outra bomba semelhante, destruir a cidade de Nagasaki, matando cerca de 80.000 pessoas. Em ambos os casos os efeitos secundários foram sentidos por décadas.
O principal argumento foi a quantidade de baixas poupadas ao exército americano que se preparava para invadir o Japão. Estas baixas foram calculadas em cerca de 1 milhão de soldados mortos e um incontável número de feridos e estropiados, um estorvo com que as autoridades teriam de lidar.
Foi, é, um argumento difícil de engolir.
Matam-se desalmadamente aqueles para poupar os que vão ser enviados para matar.
Não há diferença na morte, não há civis ou militares, há pessoas que morrem sem pedir, sem querer, sem terem podido dizer que a vida lhes ia bem, mal, ou assim-assim, que ninguém tem nada a ver com isso, muito menos os políticos que comandam as tropas que matam, as bombas que lançam, as desgraças que provocam, tanto nos civis inocentes como nos militares, inocentes também. Nem uns nem outros pediram a guerra, aqueles que desalmadamente foram mortos eram civis, os que foram poupados eram militares e, nem uns nem outros mereciam morrer por causas que provavelmente desconheciam.
O bombardeiro que transportou a primeira bomba atómica naquele fatídico dia de Agosto foi baptizado de Enola Gay em homenagem à Mãe do seu comandante. Quem tem por dádiva dar vida, deu o seu nome ao transportador da morte, pobre homenagem.
Mas a vida tem de continuar, continuou e continua, com mortes inúteis infringidas sob o invocar de ideologias, religiões e fanatismos, ceifando inocentes civis e militares que só tentam sobreviver e defender o que lhes é imposto pelos fanatismos, religiões e ideologias, com argumentos muito semelhantes aos utilizados para “desculpar” o uso de meios de persuasão mais musculados.
A Mãe Enola transportou o Little Boy. Ficaram na História sem deixarem ensinamentos. Veja-se o que se está a passar no Afeganistão e em outras áreas próximas em que atrocidades são cometidas sem que a comunidade internacional reaja, mesmo que com argumentos irracionais de que é necessário sacrificar uns para salvar outros.
É deixado ao Deus-dará o resultado que advirá do fanatismo ideológico.
Aqueles lá, serão os inocentes que serão sacrificados para que se possam salvar os inocentes de cá!
E por cá estamos a braços com uma guerra diferente, uma guerra contra um inimigo que não é civil, não é militar, não é sequer humano.
E não sendo humano, não se combate com as mesmas armas com que se matam civis. Combate-se com outro tipo de bombas, mais racionais, como resiliência, vontade, querer, com outras armas de civilidade e civismo, com a tecnologia que permite inocular em cada um de nós a vacina, essa sim a bomba que pode derrotar o inimigo invisível, numa guerra onde não pode haver uns a se sacrificarem ou a serem sacrificados para que outros sejam poupados.
É uma guerra onde não pode haver um “Enola Gay” a transportar um “Little Boy” exterminador, é uma guerra em que temos todos de ser “little boys” contra o vírus, sendo cada um de nós um “Enola Gay” que transporta a arma da vacina que pode vencer, homenageando assim todos quantos pereceram sem pedir, desta vez sem ser por uma ideologia, uma religião ou um fanatismo.