Rússia apoia negociações na ONU para chegar a acordos com talibãs
O ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia disse hoje que o país está disposto a actuar como intermediário e apoiar negociações na ONU sobre o Afeganistão para facilitar acordos entre os talibãs e outras forças do país asiático.
"Consultámos os Estados Unidos, a China e o Paquistão e vimos que todos estão interessados em continuar o trabalho iniciado, seja de mediação ou colaboração, para que as partes afegãs cheguem a um acordo", disse Serguei Lavrov, após um encontro em Budapeste com o seu homólogo húngaro, Peter Szijjarto.
Os talibãs tomaram a capital do Afeganistão, Cabul, no domingo, culminando uma ofensiva iniciada em maio, quando começou a retirada das forças militares norte-americanas e da NATO.
No mesmo dia o Presidente afegão Ashraf Ghani fugiu do país.
As forças internacionais estavam no país desde 2001, no âmbito da ofensiva liderada por Washington contra o regime extremista dos talibãs (1996-2001), que acolhia o líder da Al-Qaida, Osama bin Laden, cérebro dos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001.
O chefe da diplomacia russa disse que no Afeganistão existe uma nova realidade que tem de ser tida em conta, defendendo que as conversações sobre o país da Ásia Central no Conselho de Segurança da ONU "devem centrar-se na realidade", segundo a agência noticiosa espanhola EFE.
"As discussões devem concentrar-se no desenvolvimento de abordagens que sirvam para conseguir acordos entre os talibãs e outras forças políticas", sublinhou Lavrov, adiantando não querer que sejam dominadas por "fobias ideológicas".
Como exemplo, indicou que, a propósito da saída dos Estados Unidos do Afeganistão, o Alto-Representante para a Política Externa da União Europeia, Josep Borrell, disse que não se deveria deixar o país "sob o controlo da Rússia ou da China".
"Esta é a política de 'ou com a Rússia ou com o Ocidente' e é triste. É triste que estas pessoas façam a política externa da UE", adiantou Lavrov.
O chefe da diplomacia húngaro, por seu turno, alertou que a tomada do poder pelos talibãs pode causar uma vaga migratória que chegue rapidamente à Turquia e daqui aos Balcãs Ocidentais e à Hungria.
Budapeste rejeita a imigração, embora nos últimos dias tenha resgatado mais de 100 afegãos que colaboraram com as forças militares húngaras que estiveram destacadas no Afeganistão no âmbito da NATO.