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Afeganistão

A actual situação foi espoletada, em 2018, pelo governo americano do presidente Donald Trump

Com 652 230 km², rodeado pelo Paquistão ao sul e a leste, pelo Irã a oeste, pelo Turcomenistão, Uzbequistão e Tajiquistão a norte e pela China a nordeste, com uma população estimada em 32 milhões de habitantes das etnias pachtuns, tajiques, hazaras e usbeques, falantes de pachto e dari (principais línguas), o Afeganistão está outra vez nas bocas do mundo, pelas piores razões.

Com uma origem antiga de mais de 50.000 anos (Paleolítico Médio) e com uma civilização urbana com mais de 3.000 anos, foi ponto essencial para a Rota da Seda chinesa e tereno de muitas migrações humanas.

Pela sua situação geoestratégica, foi sempre ligação entre o Oriente Médio, a Ásia Central e o subcontinente indiano. Por essa razão, testemunhou, ao longo dos tempos, desde a Antiguidade, campanhas militares feitas por Alexandre o Grande, Chandragupta Máuria, Gengis Cã e, mais recentemente, pela Inglaterra, pela União Soviética e pelos Estados Unidos e NATO.

A sua história recente, porém, iniciou-se, em 1709, com a ascensão dos Pachtuns, quando a dinastia Hotaki foi criada em Candaar, antiga capital do reino. Em 1776, a capital foi transferida para Cabul.

A sociedade predominantemente tribal do Afeganistão, aliada à sua orografia predominantemente montanhosa com planícies ao norte e sudoeste se, por um lado, impediu a permanência de forças de ocupação estrangeiras durante períodos alargados é um factor determinante do baixo desenvolvimento económico do país.

Tudo isto bastaria para causar sofrimento ao povo afegão. A actual situação de retorno dos talibã que voltaram a apossar-se do controlo político e militar do país é pronúncio do regresso do fundamentalismo islâmico na sua versão mais tenebrosa e reacionária com as consequências facilmente previsíveis, em especial para a população feminina e minorias e para os direitos humanos em geral. É já uma pedra no sapato de Biden (que herdou a situação de Trump), da administração norte americana e da ONU.

Os talibã (“estudantes” em pachto), cuja ideologia se baseia no salafismo, uma forma radical do islamismo, surgiram após a brutal guerra civil que se sucedeu à retirada da União Soviética do Afeganistão. Embora o grupo se tenha formado, oficialmente, em 1994, alguns dos seus combatentes já tinham lutado contra as forças soviéticas, com o ajuda secreta da CIA e forte apoio saudita e paquistanês.

Desde 2016 que o líder supremo é Mawlawi Hibatullah Akhundzada, tendo sido o mulá Mohammed Omar o fundador do grupo talibã afegão. Na altura, falavam em restaurar a ordem, a paz e a segurança no país assolado pela guerra.

A actual situação foi espoletada, em 2018, pelo governo americano do presidente Donald Trump que iniciou negociações para um tratado de paz com os talibã, sem incluir o governo eleito do Afeganistão. Líderes do grupo foram libertados, a pedido do governo americano. Conversações internas de paz entre o governo afegão e os rebeldes iniciaram-se em Setembro de 2020, mas logo estagnaram.

Não sendo eu especialista desta área do mundo, abstenho-me de mais considerações.

Não deixo, no entanto, de pensar que a inércia da comunidade internacional, com os EUA à cabeça, apesar de todas as justificações legítimas que se possam invocar, está a deixar que a situação no Afeganistão se aproxime rapidamente do genocídio, se não for possível tomar medidas que ponham cobro ao predomínio das forças talibã e à consolidação do Califado Islâmico.