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Amnistia Internacional acusa talibãs de tortura e mortes violentas

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Combatentes talibãs torturaram e mataram elementos da minoria hazara no Afeganistão no início de julho, durante a ofensiva que lhes permitiu assumir o poder em Cabul, denunciou a organização de direitos humanos Amnistia Internacional (AI).

Testemunhas disseram à AI que, entre 04 e 06 de julho, os talibãs mataram pelo menos nove homens na aldeia de Mundarakt, na província de Ghazni, cerca de 150 quilómetros a sudoeste de Cabul.

Seis dos homens foram mortos a tiro e três foram torturados até à morte, lê-se num relatório da AI distribuído hoje em Lisboa pela secção portuguesa da organização.

Um dos homens foi estrangulado com o próprio lenço e teve os músculos dos braços cortados, disseram testemunhas aos investigadores da AI.

Desde que assumiram o controlo de Cabul, no domingo, os líderes dos talibãs têm tentado mostrar uma imagem mais moderada, face ao que foi o seu regime entre 1996 e 2001.

Mas a secretária-geral da AI, Agnés Callamard, considerou que a brutalidade destas mortes "é uma recordação do passado dos talibãs e um indicador horrível" do que pode acontecer.

"Estes assassínios seletivos são a prova de que as minorias étnicas e religiosas permanecem em risco particular sob o domínio dos talibãs no Afeganistão", disse.

A comunidade hazara representa entre 10% e 20% dos 38 milhões de habitantes do Afeganistão, sendo considerado o terceiro maior grupo étnico do país.

Os seus membros praticam principalmente o Islão xiita e têm enfrentado discriminação e perseguição no Afeganistão e no Paquistão, sendo frequentemente alvo de ataques dos talibãs e do grupo jihadista Estado Islâmico.

O mais recente ocorreu em maio, em Cabul, onde mais de 80 pessoas, na sua maioria raparigas, foram mortas num atentado à bomba numa escola.

Uma estátua de um dos seus heróis, Abdul Ali Mazari, líder de uma milícia xiita morto em 1995, quando era prisioneiro dos talibãs, foi parcialmente destruída esta semana em Bamyan.

A AI alertou que as "mortes brutais" em Mundarakt "representam provavelmente uma pequena fração do número total de mortes infligidas pelos talibãs até à data".

Segundo a organização, o grupo "cortou o serviço de telefone móvel em muitas das áreas" que ocuparam e controlam as "fotografias e vídeos que são partilhados a partir dessas regiões".

Residentes em Mundarakt disseram à AI que fugiram para as montanhas quando os combates se intensificaram entre as forças governamentais e os combatentes talibãs.

Quando alguns regressaram à aldeia para recolher alimentos, os talibãs tinham saqueado as suas casas e estavam à sua espera.

Uma testemunha disse que perguntou aos talibãs qual era o motivo para a brutalidade contra o seu povo e um deles alegadamente respondeu que em tempo de guerra, "todos morrem, não importa se se tem ou não armas".

A AI apelou à ONU que exija aos talibãs o respeito pelos direitos humanos e que "garantam a segurança de todos os afegãos, independentemente da sua origem étnica ou crenças religiosas".

Pediu também que o Conselho de Direitos Humanos da ONU crie um mecanismo de investigação para "documentar, recolher e preservar provas de crimes e violações dos direitos humanos" no Afeganistão.

A AI recordou que "a tortura e o assassínio no contexto de um conflito armado são violações das Convenções de Genebra, e constituem crimes de guerra ao abrigo do Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional".

A ofensiva dos talibãs começou em maio, quando começou a retirada das forças militares norte-americanas e da NATO, após 20 anos no Afeganistão.

Face à brutalidade e interpretação radical do Islão que marcou o seu anterior regime, os talibãs têm assegurado aos afegãos que a "vida, propriedade e honra" vão ser respeitadas e que as mulheres poderão estudar e trabalhar.