Eleições Autárquicas Madeira

Comércio na baixa e bairros na ‘fronteira’

Fotos Rui Silva/Aspress
Fotos Rui Silva/Aspress

Da baixa ao Bairro do Hospital, à Ribeira de São João, Santa Clara, beco dos Frias. Este é o mapa da Freguesia de São Pedro, a mais central da capital madeirense e talvez a que apresente mais contrastes.

Antes do aparecimento dos grandes espaços comerciais, tinha a esmagadora maioria dos espaços comerciais da cidade. Lojas que continuam a tentar sobreviver a uma crise provocada pela pandemia e que se ‘colou’ a outra, a de 2012/2013 que deixou muito comércio fechado.

A freguesia de São Pedro faz fronteira com outras seis – Santo António, São Martinho, São Roque, Sé, Imaculado Coração de Maria e Santa Luzia - e registava 7.220 habitantes nos últimos censos. Muitos vivem em prédios antigos e outros, uma grande parcela, nos bairros da periferia da freguesia.

Idosos que vivem sozinhos e ainda alguns sinais de pobreza convivem com umas das zonas mais históricas da capital.

Uma freguesia que tem 7.375 eleitores – mais eleitores do que residentes – e inclui grande parte do centro histórico da cidade. O núcleo São Pedro / Santa Clara, com destaque para o convento e a igreja e a Fortaleza do Pico, são peças únicas da história da Madeira.

Também histórico era o triângulo das ruas da Carreira, Pretas e Mouraria que já foi o centro do comércio do Funchal.

A Rua da Carreira é o ‘quintal’ de José Gonçalves que durante mais de 40 anos trabalhou na Farmácia Honorato.

Agora, com 75 anos, vê o esforço dos filhos para enfrentar a crise provocada pela pandemia.

Mas não tem dúvidas, o madeirense é “lutador e não desiste”

“Este é o meu quintal, há quarenta e tal anos, venho aqui e tomo um café no café do meu filho. Está melhor, antigamente não tinha nada”, recorda.

A pandemia mudou tudo e deixou muitos comerciantes em situações dramáticas.

“Foi desastroso, sobretudo para o comércio. Na farmácia estivemos sempre abertos, os cafés fecharam. Mas os madeirenses são lutadores e aguentam. O madeirense é lutador e não desiste”.

No Madeira Optics Museum, na Rua das Pretas, perto da Igreja de São Pedro, Sérgio Aguilar enfrentou as dificuldades criadas pelo confinamento. A unidade de alojamento local que também possui foi a mais afectada.

Valeram os apoios financeiros, mas para a retoma era importante a concretização de obras na zona que melhorassem a circulação pedonal. A segurança é outro problema.

“Houve uns momentos em que houve um alívio nas pessoas que vinham ao museu e no alojamento local melhorou, mas de Janeiro a Maio foi péssimo. Não se pode falar de negócio nesta zona, porque não houve devido a estar tudo parado, como acontece no mundo. O Covid afectou todas as áreas, em particular o turismo”.

Uma crise que testou a capacidade de resistência.

“Nós sempre fomos bem organizados em termos financeiros, o que nos permitiu aguentar nesta fase mais críticas. Houve ajudas importantes ao nível financeiro, como as moratórias do crédito. Penso que muita gente só se conseguiu aguentar por ter havido essas medidas”

Agora, com o regresso da actividade, o que se pede é mais condições para a circulação pedonal.

“A Rua das Pretas é muito movimentada, com muita gente a passar, mas é usada praticamente só para transporte, ninguém passeia aqui, ninguém olha para as montras e as poucas que há são em prédios degradados. Há obras planeadas para aqui que estão suspensas há meses ou anos”, lembra.

“Falou-se em remover os passeios desta rua e torná-la com trânsito reduzido. Vimos o que aconteceu na Rua da Carreira em que metade da rua não passam carros. Melhorou bastante os negócios e valorizou as propriedades”.

Também a segurança é um motivo de alerta e até já motivou queixas.

“A segurança não tem sido muito boa. Há uma ou outra ocasião em que vemos a polícia a passar, mas é mais para multar carros mal estacionados. Mas se temos pessoas que forçam as fechaduras sistematicamente, todas as noites, não temos qualquer acção da polícia. Há coisa de um ano houve um abaixo-assinado para termos policiamento constante”

Obras de reestruturação é o que pede Sérgio Aguilar.

“Vemos em grandes cidades que retiram o trânsito do centro para promover o circuito pedonal. As pessoas têm de poder passar aqui calmamente”.