E com esta me vou…mas volto.
Não me cansarei de escrever que o liberalismo moderno defende, sempre defendeu, a economia social de mercado, a equidade, o princípio do “mais aos que têm menos e menos aos que têm mais”
1. Sugestões de discos para o verão: Modest Mouse, “The Golden Casket”; Billie Eilish, “Happier Than Ever”;
Prince, “Welcome 2 America”;
Bleachers, “Take the Sadness Out of Saturday Night”;
Mountain Goats, “Dark in Here”.
E tudo o resto que vos apeteça ouvir.
2. O que comprei para ler nas férias:
Adolfo Mesquita Nunes, “A Grande Escolha”;
George Orwell, “1984”, releitura da edição saída este ano com prefácio de Gonçalo M. Tavares;
Paul Collier, “O Futuro do Capitalismo”;
Richard Zimler, “O Evangelho Segundo Lázaro”;
Julian Barnes, “O Ruído do Tempo”.
Leiam o que vos apetecer, porque o importante é ler.
3. Os direitos naturais são aqueles que não dependem das leis, costumes ou crenças de qualquer cultura ou governo em particular, portanto, são universais e inalienáveis (ou seja, direitos que não podem ser revogados ou restringidos por leis humanas). Consideremo-los padrões morais universais que são inerentes ao que somos e ao que fomos ao longo de todos os tempos, e são esses padrões que devem estar na base de uma sociedade que se quer cada vez mais livre e justa.
Não nascemos sabedores dos nossos direitos naturais. É a comunidade que nos ensina da sua validade porque, ao contrário de Rousseau, sou dos que pensam que escrever na mesma frase “bom” e “selvagem”, faz pouco sentido.
Mas os direitos naturais não se valem só por si. Implicam “deveres”, “obrigações”, “direitos inalienáveis”, “direitos absolutos”, “direitos humanos” e “direitos legais”.
Por outras palavras, e de modo mais simples, podemos dizer que os direitos naturais são os que são concedidos a todos os humanos, simplesmente por serem humanos. São princípios morais universais entre todas as culturas e sociedades e não podem ser revertidos. São a base do contrato social de qualquer sociedade. Teriam que existir mesmo que não houvesse nenhuma forma de governo.
E que direitos são esses?
o direito à vida e à defesa da mesma, para muitos o primeiro dos direitos naturais;
o direito à liberdade, todas as formas de liberdade;
o direito à propriedade, seja ela física, o seu trabalho, o próprio corpo;
o direito de provir o próprio sustento;
o direito a ter família;
o direito a ter a religião que entender.
Nenhuma forma de poder pode pôr em causa os direitos naturais. Há leis fundamentais de vários países, como, por exemplo, a americana, muito explícitas a esse respeito.
A desobediência civil é legal quando se trata da defesa dos direitos naturais. Essa desobediência caracteriza-se por ser feita pacificamente, para se opor ao que for visto como opressor pelos desobedientes. De Sófocles a Étienne de La Boétie, de Hobbes a Henry David Thoreau, passando por Gandhi e John Rawls e acabando em Martin Luther King Jr., Lech Walesa, são grandes exemplos de nomes que fizeram da desobediência civil o meio de combater as injustiças e a sonegação de direitos naturais.
4. Não me cansarei de escrever que o liberalismo moderno defende, sempre defendeu, a economia social de mercado, a equidade, o princípio do “mais aos que têm menos e menos aos que têm mais”. Moedas estáveis, austeridade fiscal, livre formação de preços, combate a oligopólios, monopólios, cartéis e subsidiariedade, são estes os princípios do liberalismo, esse terrível sistema de “mão invisível” que governa mais de um terço da Europa, os países que registam maiores índices de desenvolvimento. Esse horrível liberalismo que tanto explora os holandeses que nas eleições do mês passado deram uma vitória a um partido liberal e o segundo lugar a outro. O terrível liberalismo da Irlanda que transformou o país, levando-o de índices parecidos com os nossos há 30 anos para o topo da escala europeia, enquanto por cá, com sucessivos governos socialistas, vemos países com governos liberais a nos ultrapassarem todos os anos. Ou a Suécia, esse paraíso social-democrata onde nos últimos 30 anos os liberais têm estado mais tempo no governo. Ou a Noruega onde também os liberais são Governo. O Luxemburgo. Finlândia onde partilham o governo com os social-democratas. Dinamarca onde liberais e social-democratas se vão alternando no governo. Estónia que estava no rabo da lancha europeia e a quem agora vemos por trás. And so on…
E o que dizer da aproximação da esquerda ao liberalismo: Blair, Clinton, Fernando Henrique, Michel Rocard é o socialismo de livre mercado, Gonzalez e o regannisno do “supply side”, o que tem feito de muita social-democracia não uma vertente do socialismo, mas uma espécie de primeiro capítulo do liberalismo.
5. Com a devida vénia e autorização, deixo aqui o sucedido com um amigo:
“A pandemia paga muita coisa.
No centro de saúde, ao balcão:
- Boa tarde. Vinha marcar uma consulta de medicina familiar.
- Para marcar é preciso ser por telefone.
- Tenho telefonado, mas ninguém atende.
- Olhe, telefone agora que ele não está tocando.
- A sério?
A funcionária ri-se…
- Estou aqui ao balcão, não pode fazer marcação?
- Tem de telefonar de lá de fora.”
6. E de uma história verdadeira para uma fábula:
Era uma vez uma águia que foi criada por galinhas e que acreditava ser uma delas. Um dia, ao avistar outra águia a voar no céu, imaginou como seria fantástico conseguir voar e chegar tão alto. Suspirou fundo e voltou a debicar o chão, deixando inutilizadas as suas grandes e desenvolvidas asas.
Vê-se tanta “águia” destas por aí…
7. Hoje é a entrega da candidatura da Iniciativa Liberal à Câmara de Santa Cruz, por mim encabeçada. Como o fiz sempre que fui candidato, suspendo a minha colaboração com o DN até depois do acto eleitoral. Penso que é assim que se deve fazer. Não me sentiria bem em alinhar na “normalidade” de quem tem responsabilidades acrescidas por uma campanha eleitoral, continuando a aqui escrever o que me vai cá dentro.
Tenho vergonha alheia em ver um governante a sê-lo enquanto é também candidato, tendo assim o dobro da cobertura noticiosa.
Tenho vergonha alheia em olhar para a casa da nossa democracia e ter que levar com debates autárquicos, ao invés de se tratar de resolver os problemas que nos afligem. E que são muitos. Entre propostas de resolução aprovadas — que para pouco servem, e estes debates, a produção da Assembleia Regional é pouco mais do que nada.
Ao contrário desta gente, farei a minha campanha com a cobertura noticiosa da nota de rodapé, mas com muito para dizer. Para quem me quiser ouvir.
Vou, mas, se o DN assim o entender, volto lá para Outubro.
8. “A liberdade do homem na sociedade não deve estar edificada sob qualquer poder legislativo, excepto aquele estabelecido por consentimento na comunidade civil; nem sob o domínio de qualquer vontade ou constrangimento por qualquer lei, salvo o que o legislativo decretar, de acordo com a confiança nele depositada” - John Locke