Dinheiro público em marcas pessoais
O Relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) de agosto de 2021 constitui a mais séria advertência da ciência, feita até hoje, sobre as alterações climatéricas, com consequências como a inevitável subida do nível médio do Mar.
Mas não há aviso que chegue aos ouvidos dos políticos, com responsabilidades decisórias. Chegar deve chegar, não têm é capacidade de assimilar ou mais grave, não querem! Pois isso, iria impedir de deixar a marca da sua passagem, pessoal e efémera, no poder. Mesmo que esta seja para ser levada, pelo Mar, por exemplo.
Vem isto a respeito das decisões da Câmara de Santa Cruz. Ainda não há muitos anos, vimos o mar chegar às portas dos Paços do Concelho e não admira, pois, dista apenas 150 metros da orla marítima e está a baixa altitude. Vimos também o Mar entrar na Casa da Cultura, na Quinta do Revoredo, num forte temporal de sudeste. Mas, em vez de se preocuparem em promover estudos do que deverá ser feito e tomar as medidas possíveis , insistem em deixar a sua marca; e, claro, não é necessário gastar dinheiro em estudos pois têm no seu elenco os que sabem de tudo.
Vão então gastar o dinheiro dos contribuinte onde? Abriram, há algum tempo, uma porta absolutamente desnecessária na muralha centenária da Quinta do Revoredo; muralha, que a defendeu de inúmeros tempestades marítimas. E agora, no que não havia qualquer urgência, na chamada promenade dos Reis Magos.
Destruindo canteiros, em lugar de plantar árvores; destruindo as guardas de betão, substituindo-as por guardas metálicas, que junto ao mar obrigarão a manutenção onerosa, quando as que destruíram tinham mais de 20 anos e careciam apenas duma boa reparação; implantando umas esplanadas junto ao mar, feitas de encomenda ao hotel e à entrada do mar, instalando uns deques de madeira à feição dum mar de sudeste em condições.
Enfim, pagam, com fundos públicos, para deixar uma marca pessoal, quando há tanta necessidade a satisfazer.
M. Nascimento